24 janeiro, 2014

Ela Não Tem Nome



Ela não tem nome. Não tem forma. Convencionaram chama-la de angústia.
Angústia é quando uma mão bem pesada esmaga seu peito, bem no meio.
Angústia é quando tá sol lá fora. E nublado dentro.
Angústia é quando arroz, feijão, bife e batata frita, não tem gosto de nada.
Angústia é quando tem uma corda espremendo seu pescoço, e o ar não passa direito.
Angústia é querer ficar na cama o dia todo. Mas ser ruim estar na cama.
Angústia é ter que ouvir música, para conseguir andar.
Angústia não tem cor. Não tem formato. Não tem dono. Não tem motivo. Mas tem peso.
Como ela não tem dono, é difícil saber quem culpar.
Como ela não tem nome, é difícil gritar com ela.
Como ela não tem forma, é difícil empurra-la pra lá.
Como não tem motivo, às vezes ficamos calados.

Angústia é quando  amanhã dá medo.
Angústia é quando ontem parece que faz séculos.
Angústia é quando hoje dói o estômago.

Angústia não é raiva, nem tristeza, nem fome, nem sono.
Angústia não tem data. Nem tempo. De vir ou ir.
Angústia dá calafrio. Dá enjoo. Dá tremedeira.
Angústia mais te congela que te move.
Mas angústia não é pânico. Não é covardia. Não é nada.
É nada.
Mas um nada bem grandão dentro da sua barriga.
Com angústia tudo parece maior. Mais alto. Mas difícil.
Com angústia a gente parece menor. Mais frágil. Mais mole.

Mas angústia é só um nome que deram.
Ela não tem nome.
E poderia chamar Eu. Dor. Pedra Grande. Lado Escuro. Monstro.
E como não conseguimos nomeá-la. Nem dar uma forma. A gente transforma ela em música. Em quadro. Em cinema. Em livro. Em dança... Aí ela ganha uma cara. E podemos, pelo menos, conversar com ela.