28 maio, 2010

Uma breve homenagem...

... Ao Fernando Pessoa.

Um grande amigo me contou, dia desses, que o Fernando Pessoa sofria bullying.

Você sabe o que é bullying?

Bullying é o nome legal, e em inglês, pra zoação que as crianças e adolescentes fazem com outras crianças e adolescentes, geralmente mais nerds.

Acho que começamos a falar de bulling um dia na hora do almoço... e eu confessei aos queridos colegas que eu sofri desse mal na escola. Todos riram e metade não acreditou.

É verdade, oras. Sofri sim! Tanto que odiava escola. Não tinha amigos. Não queria estudar...

Mas o caso aqui nem sou eu....

É que quando o Rodrigo contou do bulling do poeta: "Sabia que o Fernando Pessoa sofria bullying na escola?"
Eu morri de dar risada.

Mas é claro que o Fernando Pessoa sofria bullying! Talvez ele tenha sido o percurssor do bullying!

Todo mundo que foi "nerd" no colégio, nerd e melancólico, escrevia poesias. E achava que seria o próximo Fernando Pessoa.
Todo mundo tem uns versinhos (ruins) guardados, vai!

Daqueles bem: "Oh vida! Oh alma!"

A questão é que o Fernando Pessoa continuou... pra sempre. E a diferença é que os versinhos dele são geniais.

Anyway, alguém viu no teatro "O Fingidor", a peça linda do Samir Yazbek? É uma biografia ficcional do Pessoa. lá na peça a gente vê: Fernando Pessoa = nerd!

Imagine então o prato cheio que o Fernando Pessoa, aos 12, 13 anos de idade, não era pros amiguinhos zoarem.

Bom, então pra me retratar da gargalhada que eu dei quando fiquei sabendo dessa preciosa informação da poesia lusitana, vou transcrever no meu blog uns trechinhos de um dos meus poemas favoritos do Fernando Pessoa: Tabacaria


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

(...)

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando."

(...)


Anyway... vale a pena ler Tabacaria inteiro.

E a matéria do bullying do Pessoa tá aqui

17 maio, 2010

Olha como as coisas são... II

Às vezes resolvo dar uma limpada na minha caixa de e-mails e, vira e mexe, trombo com mensagens antigas... Gosto.

E, olha como as coisas são, trombei com essa mensagem hoje, logo após ter publicado o post anterior...

É o trecho de um mail que eu mandei a um amigo. No dia 4 de Abril de 2009:

"Quanto a vida... ultimamente ela está me tratando muito mal... mas já passei pelo fundo do poço outras vezes e conheço bem a escuridão que é aqui em baixo... to procurando a saída há um tempo, mas ela tá bem escondida.

Mas tudo bem... quanto mais aguda é a dor... mais poético ficamos, não? E eu estou cada dia mais magra e com mais olheiras... ( esteticamente estou uma figura interessante, o que me deixa muito orgulhosa... apesar de chorar todo santo dia.)

Mas não se preocupe... vai passar, eu sei que vai. E quando passa... geralmente a gente fica mais feliz do que estava anteriormente... ( ou será que eu estou tendo alucinações otimistas?)

Anyway... intensifiquei tanto as minhas baladas que estou tendo ressacas monstro.... ( o que é engraçado, pois estava tão santinha no ano passado)"






Conclusão 1 - Gosto das surpresas de se virar a esquina....


Conclusão 2 - É... vou ter mesmo que me acostumar com a "estética olheiras"


Conclusão 3 - As "ressacas monstro" continuam, firmes e fortes.

Espaço em Preto

Anda doendo pra eu preencher esse espaço em preto.

Será que eu só consigo escrever na dor? Ou na angústia? Ou na insônia? No tédio? No descaminho?


A questão é que estou feliz. E com um vácuo criativo.

Estou calma. relaxada. namorando. apaixonada.

Mas o espaço continua lá. Preto. Na rede e no peito. Porque sempre sobra um espaço em preto. Sempre resta um pedacinho que dói o tempo todo.

Continuo desequilibrada. Continuo com olheiras. Continuo bebendo e fumando muito mais do que meu corpo gostaria.

Mas estou dormindo melhor. Comendo melhor. Pra falar a verdade eu to comendo pra caralho, depois da fase magra from hell, essa saúde toda tá prejudicando meu culote.


A questão é que descuidei das letras. Aqui. E lá.

Será que é o começo do fim? Ou só uma pausa longa?

07 maio, 2010

sem título

Sou cética pra caralho, mas não tão distraída pra o que de abstrato acontece.

Mesmo não vendo postes na minha frente, nem carros, não ouvindo quando chamam meu nome, esquecendo o que deveria ter feito, ou falado, ou escrito.

O outro mundo, esse que me rodeia e que ninguém vê, desse sim, eu não perco nenhum detalhe.

04 maio, 2010

Just a Perfect Day





As vezes a realidade nos acorda no susto





But today: just a perfect day