26 fevereiro, 2010

Sobre Mariposas

Gosto de mariposas. Sempre gostei.

Mas hoje, uma me é especial. E ela vai ficar guardada na lembrança como uma bela mariposa.

Ela estava no quarto e ele apontou-me a.

Ela era branca e preta, se bem me lembro. E eu a soltei. Soltei pela janela.

Mariposas são diferentes de borboletas. São mais escuras. Precisamente por serem noturnas. Noturnas como as paixões.

As mariposas vivem apenas alguns dias... ou alguns meses. Um tempo curto. O mesmo tempo curto que algumas paixões devem durar. Paixões que parecem nascer com prazo de validade...


E não é que, como são as coisas, como num relance, me lembro que dois dos meus autores favoritos escreveram sobre mariposas?

(Coincidência? Provavelmente)


A Borboleta Preta

“No dia seguinte, como eu estivesse a preparar-me para descer, entrou no meu quarto uma borboleta, tão negra como a outra e muito maior do que ela. (...)

A borboleta, depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-me na testa. Sacudi-a, ela foi pousar na vidraça; e, porque eu a sacudisse de novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a noite. O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas, tornando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo lugar, senti um rapelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.

Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui pô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fiquei um pouco aborrecido, incomodado.”


Trecho de Memórias Póstumas de Bras Cubas – Machado de Assis


Crônica Noturna

“Quando o povo era simples, as velhas comadres acreditavam que essas negras borboletas a que chamam bruxas eram anunciadoras da morte... e benziam-se. Não sei, ninguém sabe onde é que estão as velhas mulheres do povo... Mas sei que uma bruxa negra entrou-me agora pela janela, atravessa o quarto num vôo pesado e quebrado, pousa, enfim, na parede – terrivelmente imóvel.

Algum dos guris da era espacial deve estar perguntando-se por que é que eu não a esmigalho imediatamente com um sapato.

É porque eles não foram criados, como eu, entre aquelas mulheres do povo – que eram da Idade Média e sabiam das coisas...”

Trecho de Da Preguiça Como Método de Trabalho – Mario Quintana

25 fevereiro, 2010

Meu Avô e a Evolução do Cinema II ou de como o futuro era mais perto.

Fiz um post sobre a relação do meu avo com a evolução do cinema...

Ainda papeando com ele sobre o assunto ele me contou de um filme que ele viu. E eu achei interessante.

- Sabe, em 1932 eu vi um filme que se chamava “Maravilhas de 1940” (ou algo assim). Tinha um sujeito com uma doença sem cura. E a família decidiu congelá-lo para que ele acordasse no futuro, quando já teriam descoberto a tal cura.


Eis que o sujeito acorda em 1940 e leva um susto. Está tudo diferente. Os carros são hiper velozes, etc...


Aí o sujeito tá com fome, pq afinal ele passou oito anos congelado, aí ele entra em um restaurante... fica olhando o cardápio e pede um prato de arroz, bife e batata frita. Fica esperando com água na boca.


O garçom traz o prato coberto com aquelas tampas prateadas e quando ele levanta a tampa... o sujeito mal pode esperar de fome... Eis que tem três pílulas no prato. Cada uma representando o que ele necessitava na refeição. As vitaminas, proteínas, etc...


Você imagina a frustração do sujeito... que tem que engolir as tais pílulas quando ele queria comer um belo bife!?



Esse foi o relato do meu avô. Nem sei sobre o tal filme. Nem pesquisei tbm... mas fiquei pensando no assunto.

Primeiro – desde 1932 os filmes sobre o futuro eram parecidos com os de hoje... congelamentos, carros incríveis, etc...
Coisa que, convenhamos, não aconteceu até hoje. E já passamos, há tempos, do “misterioso e futurista” ano 2000.

Segundo – em 1932 o ano de 1940 já era o futuro maravilhoso. Não é o máximo? Só oito anos na frente. Muito depois o cinema trabalhou com datas bem mais longínquas. Anos 3 mil e algo...
Até ano passado, quando o futuro terrível virou 2012, só 3 anos na frente. Vai entender.

Terceiro – essa coisa de pílulas substituindo a comida sempre esteve entre sonho pra ciência e pesadelo pros gulosos, né?
Anyway, se isso realmente tivesse se tornado realidade em 1940, garanto não teríamos nem metade dos problemas ambientais e de obesidade que temos hoje!
Esse diretor de 32 deveria ter tido mais créditos em seu filme amalucado.

Quarto – meu avô teria odiado realmente ter que comer pílulas. Ele ficou traumatizado, lembra detalhes do tal filme até hoje. Uns 70 anos depois!!
Eu concordo. Prefiro as batatas fritas. Mas estou, pouco a pouco, abrindo seriamente mão da carne. E o assunto é sério, aqui. (mas tema de outro post).

24 fevereiro, 2010

entre aspas

Entre as aspas e os parênteses, eu fico com a sinceridade mesmo.


Às vezes apanho. Às vezes, caio.


Mas não digam que eu não avisei.

23 fevereiro, 2010

"A memória é uma ilha de edição"

(Waly Salomão)

22 fevereiro, 2010

21 fevereiro, 2010

domingo

Domingo de Sol em São Paulo:


Cisnes no lago do Ibirapuera.

Céu azul de perder a vista

Joga a bola... cachorrinha pega a bola. Joga a bola... cachorrinha pega a bola.

Sorvete de pitanga e de amora.

Bate papo na mesinha na calçada, em noite de lua crescente.


São Paulo tá tentando ser uma cidade agradável. E eu to dando créditos à ela.

19 fevereiro, 2010

Olhos nos Olhos

Life is really great





E hoje me peguei rindo à toa,
e cantando sem mais nem porquê

17 fevereiro, 2010

Carnaval no Rio

I N C R Í V E L !!

11 fevereiro, 2010

Meu Avô e a Evolução do Cinema

Ontem meu avô foi ver Avatar (gostei da sonoridade dessa frase)



Ontem meu avô foi ver Avatar.

Meu avô nasceu em 1917 (tem, portanto, 93 anos).

Ele tava louco pra ver! Morrendo de curiosidade. (como todo mundo, por sinal... )


Meu avô assistiu o primeiro filme com som aqui no Brasil.

- Chamava o "O Cantor de Jazz". Antes disso, tinha um pianista que tocava enquanto o filme tava passando...

Ele também viu os primeiros filmes coloridos.

- Tinha uns filmes coloridos com umas cores fortes, meio artificiais. O primeiro bom mesmo foi "E o Vento Levou..."
Assisti o vento levou pela primeira vez em Buenos Aires... Depois assisti mais umas 4 vezes.
Sua avó adora.

- (minha avó) - Ah, "E o Vento Levou..." é o filme mais bonito do cinema. Quando estreou aqui eu era menina. Minha tia me levou ao cinema assistir.

(meu avô) - Uma maravilha!


Meu avô tem uma tendência rara de achar tudo "uma maravilha". Cara, faz 93 anos que ele está sobre a Terra e ele ainda acha tudo "uma maravilha".
Acho que eu puxei isso dele. Sou do tipo otimista. Que adora tudo. Sensível pra achar beleza nas pequeninas coisas.

Voltando...

Em 1950 chegou a novidade da televisão.

(minha avó) - Ah, seu avô foi o primeiro a comprar... devia ter só outros cinco ou seis aparelhos aqui em são paulo.
Mas não adiantava. Não passava nada. Isso foi em 50. Ainda éramos noivos.


É... não adiantava ter um aparelho de televisão e não ter emissora.
Mas eu aposto que meu avô achou a novidade "uma maravilha" e comprou mesmo assim.


(minha avó) - No começo só passava desenho animado na televisão.

Imagina. Só passava desenho animado na TV aberta nacional. Acho que retrocedemos.

(minha avó) - Eu achava chato.



Passaram-se mais 60 anos dessa primeira tv... E meu avô foi ver Avatar.
Infelizmente teve que ir na cadeira de rodas.

- E aí, vô? Gostou?

- Ah, uma maravilha. Mas aquele lugar era muito na frente. (porque colocam as cadeiras de roda nas primeiras fileiras!?!?!). Mas é bonito.

(minha avó) - Eu achei um pouco difícil ler as legendas... mas as cenas de altura davam bastante sensação!

Eu, de minha parte, achei Ok. Claro que é lindo maravilhoso. Claro que meu sonho, agora, é ter cabelos de dreads com entrada USB para interagir com os animais.

Mas é que fizeram tanto "auê", e do jeito que minha cabeça voa... é óbvio que eu já imaginava que eu ia entrar no filme, sentir cheiros, ver os personagens sentados do meu lado, etc... anyway.

Mas imaginem. Meus avós, em pouco mais de 80 anos, passaram por tudo isso (falando só de audiovisual). Imagina quanta coisa a gente ainda vai ver... que a gente nem imagina.



P S - Eu não sei. Mas já quero deixar registrado que quero ser produtora e criadora de essências. Assim que os filmes estiverem produzindo cheiro também!

09 fevereiro, 2010

LOST

Hoje estréia a sexta temporada do LOST aqui no Brasil!

Eu fiquei pensando se postava algo sobre um dos produtos audiovisuais para a televisão que eu mais gosto. Sobre o roteiro, sobre a narrativa, sobre como é divertido...

Mas aí pensei: existem tantos blogs, fóruns de discussão, comunidades, sites, etc... de Lostmaníacos muitíssimo mais maníacos que eu e com muito mais tempo do que eu para escreverem sobre inúmeras teorias e especulações e centenas de referências e influências além de discutir sobre as temporadas passadas e futuras e, inclusive, sobre a vida privada dos atores além de conseguir descobrir de onde os roteiristas tiraram todas suas inspirações como por exemplo o que é dharma no budismo, quem foi Locke e Hume na filosofia e quanto dá o quadrado da multiplicação da soma dos números e como Skinner já havia usado esse tipo de experiências na sua psicologia comportamental...

Que eu acabei desencanando do post.

08 fevereiro, 2010

Rio...

Sabe o que eu gosto no Rio de Janeiro?

É que as referências são, muitas vezes, belezas naturais.

Vou pro Rio no Carnaval... Aí me perguntaram:

- Que legal, onde vc vai ficar?

- Na rua tal, perto da Pedra do Arpoador, sabe?

- Claro! Putzzz vou estar pertinho, sabe o Morro Dois Irmãos...?

Se fosse em Sao Paulo, eu provavelmente diria...

- Na rua tal, perto daquela concessionaria Fiat. É só virar a esquerda no posto Shell.

Nunca poderia dar nenhuma referência natural... a não ser talvez em alguns bairros, típicos dessa cidade - com ausência de árvores.
Aí poderia dizer:

- Na rua tal, a 500 metros da árvore.

- Ah, sei A árvore. Não tem como errar.

04 fevereiro, 2010

... Virando a esquina... o inacreditável!

Nesse post eu falei que eu virei a esquina... E vcs não imaginam quanto coisa tem lá!

Essa frase foi uma matáfora... também. E também não! Olha:

Muitos motivos, caminhos, desvios e descaminhos me levaram ao litoral uruguaio.
Um deles foi... os Lobos Marinhos!

(amo bicho acima de tudo)


Li e ouvi que o litoral do Uruguai (mais especificamente Cabo Polonio) é uma das maiores colônias de Lobos Marinhos do mundo. O país os protege, por lei, desde 1991.

Lá fui eu... amarradona...

Após percorrer o duro percurso, a pé, entre Valizas e Cabo Polonio... e ver, por esse caminho, uma dezena de cadáveres desses incríveis bichos na areia, escrevi assim no meu bloco de anotações:

Observações sobre Lobos Marinhos

Sim, cansei de ver lobos marinhos em Cabo Polonio.
O problema é que estavam todos mortos.
falaram que poderíamos ver lobos marinhos de pertinho... verdade! a cada 500 metros vemos um deles morto na praia. Vários. Muitos filhotes.
Uma cena realmente triste.
Não dá pra saber, no entanto, se essas mortes foram naturais ou não.

Ok,
cheguei em Cabo Polonio e, após uma garrafa da Patrícia (lógico), fui andar nas rochas e resolvi, literalmente, dobrar a esquina, continuar pela ponta rochosa, e dar a volta.
E aí... o inacreditável!

Centenas de Lobos Marinhos. Muitos... no mar, nadando, nas rochas...
Sem dúvida, uma das visões / experiências mais incríveis da minha vida!

Foi difícil escolher as fotos para postar... :


Cabo Polonio... uma das praias mais fofas que eu já vi.




Esse fez pose... tava pertinho... mas quando tentei agradar... ele ficou meio bravo


Ok, nada de zuar minha pose de malabarismo...






Esse gordão aí é o único que é Leão Marinho, os outros todos são Lobos, são menorzinhos... pelo menos foi o que me explicaram (um cara que sabe tudo). (Sim, eu tbm achei que fosse um Lobo mais velho... e preguiçoso)




Bom... mas já que meus posts anteriores estavam passeando bastante "no deserto"... acho que vale mostrar o deserto que atravessamos pra chegar em Cabo Polonio:



A duna que iríamos enfrentar...

E enfrentamos!


Com uma mochila de dez quilos.

A paisagem semi árida


Uma paradinha na "sombra" pq ninguém é de ferro!


E mais areia!
Foi demais!
Ainda volto pra Cabo Polonio nessa vida!
P. S. - Os créditos das fotos é do Gustavo, querido!

Ainda "no teu deserto"

“(...) Eu descobri-o logo, tu já o tinhas adivinhado antes, mas depois custou-te mais a aceitá-lo. O preço era cada um seguir para seu lado, seguir a sua vida, os seus hábitos, regressar ao seu mundo. (...)

Sabes, a minha vida tem sido um excesso permanente, uma espécie de avalanche a escorregar montanha a baixo. Não tem havido pecado que não me manche, vício que não me seduza.
(...) A minha vida tem sido um vazio sem bússola nem azimute. Tenho 21 anos agora, e às vezes sinto como se tivesse duzentos e dez. Não durmo de noite, adormeço de dia. Acordo de boca seca, sinto o mundo andar à roda, que alguém me puxa para o fundo de um poço onde só há escuridão, onde me vou perder e onde me quero perder, assim, sem sentido algum. Gostei tanto de te ter encontrado, não me deixes agora... Não me deixes à beira do poço. Não me tragas de volta do deserto.
(...)

- Sabes, apetecia-me estar lá, no deserto. Não consegui ainda habituar-me a isto.

- Tens de te habituar. A vida é assim mesmo, nada dura para sempre. Só os rios e as montanhas, como diziam os índios da América.

Já sei, já sei que nada dura para sempre – só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? Com o tempo contado, com tudo previamente estabelecido e com prazo de validade previsto à partida? Foi só isso, diz-me, foi só isso o nosso encontro? Não ficou mais nada lá atrás, não deixamos nada de nós os dois no deserto que atravessamos?

Ás vezes eu pensava em ti, Claudia. Pensava, mas sem pensar muito. Cada um de nós seguira a sua vida e elas eram em tudo diferentes: os amigos, o trabalho, os lugares por onde andávamos, mais de meia geração a separar-nos. Lá longe isso não fez assim tanta diferença, mas aqui fazia toda. Eu não andava a noite nem nos bares, discotecas ou concertos de rock: nunca foi vida que me seduzisse e menos ainda agora, que trabalhava tanto e via crescer os filhos como pai de fim de semana. Com os anos, comecei a ficar obcecado em construir coisas. Coisas que durassem, que ficassem depois de mim. E, de cada vez que concluía uma coisa, passava a outra e assim sucessivamente, como se tentasse ultrapassar o próprio tempo.”

“Hoje já ninguém vai ao nosso deserto, Cláudia. Os fundamentalistas islâmicos tornaram-se sanguinários e incontroláveis e os próprios tuaregues revoltaram-se contra o poder de Argel.
Mas a razão principal nem é essa. A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Não sabem para que serve e, quando me perguntam o que há lá e eu respondo “nada”, eles riscam mentalmente dos seus projetos.”

No Teu Deserto, Miguel Souza Tavares

03 fevereiro, 2010

Lluvia

Assisti um filme bunitinho ontem.

"Lluvia", argentino. A roteirista e diretora é a Paula Hernández.

Lluvia é chuva.

Esse é um ótimo filme para os nossos 42 dias initerruptos de chuvas paulistanas. Recomendadíssimo.


Essas 3 coisas estão me fazendo MUITO bem nesses ultimos dias: livro, filme, música. (talvez por isso eles tbm estejam insistindo nos posts)

É impressionante como a arte é mesmo comida pra alma.

Acho que minha alma tava precisando de vitamina!

02 fevereiro, 2010

No repeat

Tem uma música que não sai do meu carro há pelo menos uns dois anos e meio.
É a versão da Vanessa Bumagny para Flor da Idade, do Chico.
E quando escuto, escuto no repeat. Repeat mesmo, umas cinco vezes seguidas. E canto alto!



Flor da Idade é letra do Chico. É uma das minhas letras preferidas.

A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
Armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha


Repara como ele usa a linguagem de forma maravilhosa! Nenhuma palavra tá lá por acaso.
Essa frase, pra mim, é uma pérola: Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
Isso sem falar na d e l i c i o s a brincadeira com o "R"!
Sou completamente apaixonada por brincadeiras de linguagem, palavras e letras!



Essa outra, é uma poesia do Drummond, bem mais antiga.
Provavelmente a mais conhecida do grande poeta:

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história


No repeat do meu carro.
E no repeat da vida.
Drummond é um poeta, e como tal enxerga por cima.
Talvez a quadrilha seja mesmo a eterna repetição da humanidade.