Tem uma música que não sai do meu carro há pelo menos uns dois anos e meio.
É a versão da Vanessa Bumagny para Flor da Idade, do Chico.
E quando escuto, escuto no repeat. Repeat mesmo, umas cinco vezes seguidas. E canto alto!
Flor da Idade é letra do Chico. É uma das minhas letras preferidas.
A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
Armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha
Repara como ele usa a linguagem de forma maravilhosa! Nenhuma palavra tá lá por acaso.
Essa frase, pra mim, é uma pérola: Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
Isso sem falar na d e l i c i o s a brincadeira com o "R"!
Sou completamente apaixonada por brincadeiras de linguagem, palavras e letras!
Essa outra, é uma poesia do Drummond, bem mais antiga.
Provavelmente a mais conhecida do grande poeta:
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
No repeat do meu carro.
E no repeat da vida.
Drummond é um poeta, e como tal enxerga por cima.
Talvez a quadrilha seja mesmo a eterna repetição da humanidade.
Você está muitíssimo bem acompanhada. Bjos
ResponderExcluirRepeat... também sofro desse mal. Ou bem, sei lá.
ResponderExcluirÀs vezes o dia tem sua trilha perfeita, e às vezes essa trilha é só uma música.
O dia inteiro no repeat. Não só 5 vezes... hehe