Para ler ouvindo Fé Cega, Faca Amolada (do álbum
Minas, 1975, de Milton Nascimento - https://www.youtube.com/watch?v=xxW1_tiY_O4 )
A menina que fecha
os olhos em lótus e medita sobre como é grande tudo isso. E sente o tamanho do
universo
O pequeno
fazendeiro que sabe que cada semente é uma vida que virá, que sabe o tempo da
terra, que mexe o solo e faz nascer o que antes não havia.
A corredora que em
longa distancia transforma corpo, mente e alma numa coisa só, dedicada a fazer
a dor passar, e ir um pouco mais dessa vez.
A moça que cozinha
com cada parte de seu ser. Que corta os temperos como quem está naquele lugar
desde sempre, presente naquele instante, para transformar ingredientes em amor
e dar prazer a quem come.
O moço que pula do
penhasco, com quase nada nas costas, só pra sentir o corpo encher de
adrenalina. E de novo. E de novo.
O fotógrafo que
espera o pássaro. Senta. Aguarda horas. Sente a luz. Enxerga o tempo. Aponta.
Foca. Tira uma, duas, três. Vira imagem.
Quando ela dedilha
as cordas do violão. A tarde toda. A mesma harmonia. E vira ritmo.
O menininho que
constrói cidades de areia. E permanece. E está inteiro.
O cientista que
dedicou a vida a estudar uma célula. Uma única. Se dedicou ao invisível.
Quando você reza?
O Yogui que para o
tempo com seu corpo.
O índio que
transforma cipó em conhecimento.
O padre que saiu da
catedral e virou líder comunitário.
Pisar na grama.
Os olhos do cavalo.
A voz de Milton.
O por do sol.
O que você louva?
As casas de Gaudí
As letras de
Quintana
As músicas do
Marley
Os filmes do Lars
O café de Minas
O tempero da Índia
O brigadeiro da sua
avó
Onde está deus?
A dor do outro
doendo em você. A preocupação com sua irmã. A saudades daquele amigo. O medo de
ir. A gargalhada, aquela, de contorcer. O insight. O maravilhamento.
As estrelas, que
são luzes do passado.
O tempo, que mostra
que somos quase nada.
Os dinossauros, que
eram tão grandes e viveram aqui tanto tempo.
Os desenhos nas
cavernas, que contam do que fomos.
Sua igreja tem
paredes?
Quando a gente
chora no fim de um livro
Quando você se
apaixona, e de repente um estranho se torna indispensável
Quando a árvore
cortada volta a brotar
Quando alguém deixa
o café pago para o outro
Quando o poeta
escreve no muro, e alguém na rua se emociona
Quando o fazendeiro
dá o leite que sobrou.
Quando trinta mil
pessoas cantam junto a mesma música
Quando entramos na
cachoeira.
Quando olhamos a
foto de quem já morreu, e ele praticamente aparece do nosso lado.
Quando fazemos
roda. No chão da sala, numa mesa de bar ou em volta de uma fogueira
Quando estamos
presentes.
Qual a SUA religião?