Por eu querer tudo às vezes fico confusa.
Confundo o mundo também. Ou ele me confunde... já nem sei.
Vou parar de querer tudo e ficar quieta.
30 julho, 2010
27 julho, 2010
Mariazinha
Mariazinha era uma menina muito feinha
Todo mundo dizia:
"A Mariazinha é boazinha, mas ela é tão feinha..."
Aí a Mariazinha cresceu
Ficou alta, comprou um carro, alugou um ap.
E todo mundo dizia:
"A Maria é gente boa. Mas ela é tão feinha..."
Todo mundo dizia:
"A Mariazinha é boazinha, mas ela é tão feinha..."
Aí a Mariazinha cresceu
Ficou alta, comprou um carro, alugou um ap.
E todo mundo dizia:
"A Maria é gente boa. Mas ela é tão feinha..."
26 julho, 2010
Gato Magro
Era uma vez um gato pintado.
Ele era magro mas não era pálido
Ele se esgueirava pelos muros
Se escondia nos arbustos
Uma vez ele pulou da janela e
Pluft
Se esborrachou
Coitado do gato pintado.
Ele era magro mas não era pálido
Ele se esgueirava pelos muros
Se escondia nos arbustos
Uma vez ele pulou da janela e
Pluft
Se esborrachou
Coitado do gato pintado.
22 julho, 2010
Carne na Amazonia
Frigoríficos afirmam ter parado de comprar gado de terras indígenas e unidades de conservação, um ano após o lançamento do relatório do Greenpeace sobre pecuária na Amazônia.
São Paulo, 20 de julho de 2010 – Os três maiores frigoríficos do Brasil – JBS/Bertin, Marfrig e Minerva – anunciaram na última semana que deixaram de comprar gado de 221 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou próximas a áreas recém-desmatadas na Amazônia. Outras 1.787 propriedades, num raio de até 10 quilômetros de novos desmatamentos, unidades de conservação e terras indígenas, passam por averiguação. As empresas declararam também ter o ponto georreferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.
“A apresentação desses números é uma clara e bem-vinda sinalização de que o setor está de olho nas novas exigências do consumidor preocupado com o meio ambiente em todo o mundo. As empresas precisam agora ampliar e consolidar esse trabalho, realizando auditorias nos processos, garantindo transparência e confiabilidade aos dados e convencendo seus fornecedores a disponibilizarem mapas com os limites georreferenciados das propriedades” , afirma Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Detalhes sobre os dados, como a localização das fazendas excluídas e suspensas e os procedimentos adotados encontram-se à disposição nas empresas.
Os resultados entregues, nove meses após a assinatura de acordo entre os frigoríficos e o Greenpeace (assinado em outubro do ano passado), correspondem à primeira etapa do compromisso assumido pelas empresas-líderes do setor da pecuária com desmatamento zero na Amazônia: cadastrar e mapear todas as fazendas de seus fornecedores diretos, para não comprarem mais gado proveniente de áreas recém-desmatadas na região, de terras indígenas e áreas protegidas
O monitoramento dessa cadeia produtiva é essencial para que clientes e consumidores de produtos bovinos não contribuam indiretamente para a destruição da maior floresta tropical do mundo. No entanto, para que esse processo ocorra de forma eficaz e transparente, é indispensável a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades, ferramenta que possibilita monitorar por satélite e identificar com segurança todos os fornecedores – tanto os que produzem sem desmatar quanto os que desmataram a floresta após outubro de 2009.
No Mato Grosso, detentor do maior rebanho do país, menos de 5% das fazendas estão cadastrados no sistema de licenciamento ambiental do governo do estado. A exigência do cadastro é lei e tem prazo para ser cumprida: novembro deste ano. No Pará, o número de fazendas registradas junto ao CAR – Cadastro Ambiental Rural – saltou, em menos de um ano, de cerca de 300 para 19 mil propriedades inscritas, devido às pressões exercidas por consumidores e pela atuação do Ministério Público Federal, que moveu ações obrigando parte da cadeia a realizar o cadastramento. Porém, esse número ainda representa apenas 9% do total de propriedades do Estado.
“As pressões dos frigoríficos são fundamentais para promover o cadastramento das fazendas nos Estados. Também vamos cobrar daqueles que ainda não assumiram nenhum compromisso com a floresta. Os consumidores precisam saber quem ainda não está se mexendo para tirar o desmatamento de seu negócio”, afirma Adário.
Os três frigoríficos responderam, em 2009, por 36% do abate feito na Amazônia Legal. O restante vem de pequenos, médios e grandes frigoríficos que até agora não assumiram compromisso com o desmatamento zero e vendem seus produtos para os consumidores, por meio de supermercados que ainda não limparam suas prateleiras de passivos ambientais e sociais.
São Paulo, 20 de julho de 2010 – Os três maiores frigoríficos do Brasil – JBS/Bertin, Marfrig e Minerva – anunciaram na última semana que deixaram de comprar gado de 221 fazendas localizadas dentro de terras indígenas, unidades de conservação ou próximas a áreas recém-desmatadas na Amazônia. Outras 1.787 propriedades, num raio de até 10 quilômetros de novos desmatamentos, unidades de conservação e terras indígenas, passam por averiguação. As empresas declararam também ter o ponto georreferenciado de mais de 12.500 fazendas, número que, segundo elas, representa 100% da cadeia de fornecedores diretos da região.
“A apresentação desses números é uma clara e bem-vinda sinalização de que o setor está de olho nas novas exigências do consumidor preocupado com o meio ambiente em todo o mundo. As empresas precisam agora ampliar e consolidar esse trabalho, realizando auditorias nos processos, garantindo transparência e confiabilidade aos dados e convencendo seus fornecedores a disponibilizarem mapas com os limites georreferenciados das propriedades” , afirma Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Detalhes sobre os dados, como a localização das fazendas excluídas e suspensas e os procedimentos adotados encontram-se à disposição nas empresas.
Os resultados entregues, nove meses após a assinatura de acordo entre os frigoríficos e o Greenpeace (assinado em outubro do ano passado), correspondem à primeira etapa do compromisso assumido pelas empresas-líderes do setor da pecuária com desmatamento zero na Amazônia: cadastrar e mapear todas as fazendas de seus fornecedores diretos, para não comprarem mais gado proveniente de áreas recém-desmatadas na região, de terras indígenas e áreas protegidas
O monitoramento dessa cadeia produtiva é essencial para que clientes e consumidores de produtos bovinos não contribuam indiretamente para a destruição da maior floresta tropical do mundo. No entanto, para que esse processo ocorra de forma eficaz e transparente, é indispensável a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades, ferramenta que possibilita monitorar por satélite e identificar com segurança todos os fornecedores – tanto os que produzem sem desmatar quanto os que desmataram a floresta após outubro de 2009.
No Mato Grosso, detentor do maior rebanho do país, menos de 5% das fazendas estão cadastrados no sistema de licenciamento ambiental do governo do estado. A exigência do cadastro é lei e tem prazo para ser cumprida: novembro deste ano. No Pará, o número de fazendas registradas junto ao CAR – Cadastro Ambiental Rural – saltou, em menos de um ano, de cerca de 300 para 19 mil propriedades inscritas, devido às pressões exercidas por consumidores e pela atuação do Ministério Público Federal, que moveu ações obrigando parte da cadeia a realizar o cadastramento. Porém, esse número ainda representa apenas 9% do total de propriedades do Estado.
“As pressões dos frigoríficos são fundamentais para promover o cadastramento das fazendas nos Estados. Também vamos cobrar daqueles que ainda não assumiram nenhum compromisso com a floresta. Os consumidores precisam saber quem ainda não está se mexendo para tirar o desmatamento de seu negócio”, afirma Adário.
Os três frigoríficos responderam, em 2009, por 36% do abate feito na Amazônia Legal. O restante vem de pequenos, médios e grandes frigoríficos que até agora não assumiram compromisso com o desmatamento zero e vendem seus produtos para os consumidores, por meio de supermercados que ainda não limparam suas prateleiras de passivos ambientais e sociais.
21 julho, 2010
Engraçado isso
Engraçado isso
To exausta. Completamente exausta de não sei o que
Tive uma crise de choro no banheiro e não sei por que
Você já se sentiu assim?
Não é TPM. Não é dor de motivo. Não é fome que nem criança.
É vontade de não estar em lugar nenhum. De não falar com ninguém. De sumir por horas.
De dormir por semanas. Sem acordar nem pra fazer xixi.
Vontade de tomar água até se afogar. Ou de ficar dentro d´água até ela me afogar
É vontade de nada
De absolutamente nada.
De ser nada e não ter nada e não fazer nada e não falar nada e não ter que ser nada de ninguém e nada de mim mesma.
Nada.
Nem sei por que acho engraçado isso.
To exausta. Completamente exausta de não sei o que
Tive uma crise de choro no banheiro e não sei por que
Você já se sentiu assim?
Não é TPM. Não é dor de motivo. Não é fome que nem criança.
É vontade de não estar em lugar nenhum. De não falar com ninguém. De sumir por horas.
De dormir por semanas. Sem acordar nem pra fazer xixi.
Vontade de tomar água até se afogar. Ou de ficar dentro d´água até ela me afogar
É vontade de nada
De absolutamente nada.
De ser nada e não ter nada e não fazer nada e não falar nada e não ter que ser nada de ninguém e nada de mim mesma.
Nada.
Nem sei por que acho engraçado isso.
14 julho, 2010
Declaração
Sempre quis ser uma genia.
Mudar o mundo, maravilhar as pessoas
Ser uma grande escritora
A melhor roteirista
A mulher admirada
Premiada
Mas eu venho me frustrando porque eu ainda não consegui todas essas coisas, antes dos trinta.
Nada disso.
Nem perto disso?
E frustrada fiquei me perguntando o que vinha me impedindo. Por que não consigo
O que me atrapalha
E, admirada, descobri:
O que vem me atrapalhando é a vida.
É a preguiça que eu sinto no domingo de manhã, e quero me espreguiçar mais um pouco, e ler um livro deitada na rede.
É a saudades que eu sinto dos amigos queridos, e quero esticar com eles uma saideira, falar de uma teoria nova sobre o nada, e dar mais meia dúzia de gargalhadas.
É a gula de sábado a tarde assaltar a geladeira da avó. Roubar aquele pedaço de bolo quentinho, que ela vai servir pra visita. E quando meu avô conta em segredo que tem sorvete no freezer, e que fica bom misturar.
É a vaidade de querer acordar cedo pra ver se corro um pouquinho mais longe. De sair do banho quentinho e passar o creminho novo e cheiroso que combina com a água de colônia que eu comprei ontem.
E é também o medo de não ser perfeita, que faz eu preferir deixar pra mais tarde... porque agora é hora de fumar um cigarro e tomar um cafezinho.
E é, e vou fazer agora uma declaração daquelas que o Pessoa diz que são ridículas.
É porque quero ver aquele sorriso e aqueles olhos, que me fazem querer correr pra chegar mais rápido do que se estivesse indo receber um prêmio.
É porque eu quero ficar mais um tempo embaixo do cobertor, agarrada a ele, do que chegar mais cedo pra rever aquela edição.
É porque a gente ficou dando risada junto, e eu acabei esquecendo o que eu ia escrever sobre aquela ideia que eu tinha tido.
É porque eu acabo filosofando muito mais sobre a vida quando eu a assisto de fora
Mas eu me divirto muito mais quando sou sua protagonista. E isso tá prejudicando o grande sucesso que eu ainda não tive.
Mudar o mundo, maravilhar as pessoas
Ser uma grande escritora
A melhor roteirista
A mulher admirada
Premiada
Mas eu venho me frustrando porque eu ainda não consegui todas essas coisas, antes dos trinta.
Nada disso.
Nem perto disso?
E frustrada fiquei me perguntando o que vinha me impedindo. Por que não consigo
O que me atrapalha
E, admirada, descobri:
O que vem me atrapalhando é a vida.
É a preguiça que eu sinto no domingo de manhã, e quero me espreguiçar mais um pouco, e ler um livro deitada na rede.
É a saudades que eu sinto dos amigos queridos, e quero esticar com eles uma saideira, falar de uma teoria nova sobre o nada, e dar mais meia dúzia de gargalhadas.
É a gula de sábado a tarde assaltar a geladeira da avó. Roubar aquele pedaço de bolo quentinho, que ela vai servir pra visita. E quando meu avô conta em segredo que tem sorvete no freezer, e que fica bom misturar.
É a vaidade de querer acordar cedo pra ver se corro um pouquinho mais longe. De sair do banho quentinho e passar o creminho novo e cheiroso que combina com a água de colônia que eu comprei ontem.
E é também o medo de não ser perfeita, que faz eu preferir deixar pra mais tarde... porque agora é hora de fumar um cigarro e tomar um cafezinho.
E é, e vou fazer agora uma declaração daquelas que o Pessoa diz que são ridículas.
É porque quero ver aquele sorriso e aqueles olhos, que me fazem querer correr pra chegar mais rápido do que se estivesse indo receber um prêmio.
É porque eu quero ficar mais um tempo embaixo do cobertor, agarrada a ele, do que chegar mais cedo pra rever aquela edição.
É porque a gente ficou dando risada junto, e eu acabei esquecendo o que eu ia escrever sobre aquela ideia que eu tinha tido.
É porque eu acabo filosofando muito mais sobre a vida quando eu a assisto de fora
Mas eu me divirto muito mais quando sou sua protagonista. E isso tá prejudicando o grande sucesso que eu ainda não tive.
13 julho, 2010
um textinho da Adriana Falcão...
... mas ela tem muitas outras coisas que eu gosto muito, e que eu vou colocar aqui de vez em quando...
O DOIDO DA GARRAFA
Adriana Falcão
Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.
Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.
O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.
Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.
Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.
Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.
Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.
Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.
Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.
Conhecia mitologia a fundo.
Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.
Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.
Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.
Às vezes falava sozinho, Preferia tristeza à agonia.
Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeÇa incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.
Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.
No fim do ano ia trocar de carro.
Era excelente chefe de família.
Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.
O DOIDO DA GARRAFA
Adriana Falcão
Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.
Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.
O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.
Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.
Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.
Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.
Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.
Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.
Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.
Conhecia mitologia a fundo.
Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.
Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.
Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.
Às vezes falava sozinho, Preferia tristeza à agonia.
Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeÇa incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.
Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.
No fim do ano ia trocar de carro.
Era excelente chefe de família.
Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.
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