20 novembro, 2013

Rosa Cinza

São tudo rosas.
A cor das meninas. E as flores com espinhos. O mundo da fluoxetina. E a essência das tias. São rosas despedaçadas para os amantes pisarem. E rosas secas para perfumar lavabos. São rosas as marcas da pancada. E da palmada para educar.
O tapa no rosto é rosa. E a bochecha maquiada.
É rosa a pele do branco. E o lábio do negro.
É rosa o pensamento da criança, antes de ser cinza.
É rosa o terço da novena. E rosa a esperança de cada oração.
Os dias são cor-de-rosa pra quem é todo coração.

São tudo nuvens cinzas quando tá nublado.
É cinza a fumaça feia do ônibus que leva pro trabalho. É cinza a segunda-feira.
São cinzas os restos do seu avô. E serão os seus, se assim quiser.
É cinza a camiseta do moleque. E a calça da executiva. É cinza o mundo do pessimista.
São cinzas do fogo da floresta. E cinza o planeta que espera.
Da bituca do cigarro ansioso, resta a cinza.
E do cinzeiro, a ferrugem.
É cinza o asfalto da estrada, de quem tem pressa.
É cinza o mesmo asfalto, de quem é só parada.

Ficou cinza a rosa que você me deu. Pois secou.


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