27 janeiro, 2015

ADEUS



A tarde cai. Todo dia a tarde cai. E é dolorido.
O lusco-fusco do fim do dia, apesar de lindo, é uma luminosidade triste. Pois algo está nos deixando…

Dar adeus é assim.
Não é tchau. Não é até logo. Não é até mais tarde.
É adeus.
Todas as línguas têm essa palavra? A palavra que define algo que se vai, para sempre?

Para o adeus nunca é a hora. Não adianta se preparar para ele.
Não há treinamento para o adeus.

Dar adeus prende o peito.
Dar adeus bambeia as pernas.
O adeus demora no abraço. O último abraço.
No adeus o beijo não é doce. É urgente. E demorado.
No adeus o outro vai. E você fica.
Nós sempre ficamos no adeus. Mesmo que sejamos nós que partimos.

O adeus dura muito.
E demos um nome para esse muito: luto
O adeus é preto.

Quando olhamos nos olhos de quem está nos deixando, a vida encurta. E a dor encomprida.
Os olhos de quem nos deixa são fundos. E os nossos, rasos

Quando damos adeus, o rosto fica molhado. O corpo se retrai. Os braços se apertam.

Dar adeus dói muito.

Nós ficamos imaginando a vida sem aquele adeus.
A vida poderia ser outra. Mais leve. Mais alegre. Mais nossa.
Nós sempre pintamos uma existência sem o adeus.
Mas ele está lá. E ele aparece quando menos esperamos.

Mas há quem antecipe o adeus. Sabe que ele chegará. Cedo ou tarde.
E quando ele chega, arrebenta.
Ninguém está pronto.

Dar adeus machuca o estômago.
Dar adeus dá raiva.
Dar adeus dá ânsia de vômito.
Dar adeus magoa

No adeus
Quem vai, parte. Quem fica, parte-se.

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