Um domingo desses eu fui num Festival chamado SWU. O tal festival se pretendia ser o “novo Woodstock”. Ok... Risadas à parte, é lógico que esse festival, que custava mais de cem reais pra entrar, nunca iria ser o novo Woodstock, não seria nem a sátira do Woodstock...
Além disso, ele se pretendia ser um festival de arte e sustentabilidade... nisso ele poderia até chegar mais perto, porque a tal da sustentabilidade é o respiro do nosso tempo (como as guitarras e o LSD o foram...). A música foi boa. A tentativa foi boa, boas idéias de ações pseudo sustentáveis... Mas o SWU esqueceu de contar uma coisinha, e talvez seja ela que nunca, nunca , nem com dez milhões de arvores plantadas, o permitiria ser o novo Woodstock, ou o respiro rebelde irmão do nosso tempo, o sustentável. Sabe por que? Porque o Festival foi patrocinado. É, meu caro, Patrocinado.
O patrocínio que obrigou os “roqueiros”, os “artistas”, os “ambientalistas” e todos aqueles que se pretendem rebeldes hoje, como o foram os tios de alguns outrora, a beber cerveja Heineken por sete reais o copo. E a comer espetos Mimi.
É... pois ninguém podia entrar no “Festival de Arte e Sustentabilidade” com nada comestível ou bebível que fosse, ou que lhe aprouvesse o paladar rebelde. Não importava o quanto nos deliciássemos com a música de bandas realmente boas, nós devíamos fazer isso consumindo marcas específicas.
O patrocínio penetrou, de maneira implacável e silenciosa, no campo da arte. E isso não pode ficar assim!
Mas o SWU foi o exemplo brando que eu arrumei pra iniciar esse texto, que vai falar de coisa pior. Me acompanhem:
Sábado passado eu fui na Exposição Água, que tá rolando na OCA, lá no Parque do Ibirapuera.
A Oca pretendia, como diz no programa que tá na minha mão, “fazer uma exposição sobre a água é como realizar uma exposição sobre a vida, pois cabe tudo nesse conceito.”
A exposição pretendia abordar água e sua relação com a vida: Nela entrou a ciência, com a parte dos biomas marinhos e belos aquários. Nela entrou história, com a reprodução de diversas embarcações que fizeram o homem vencer o obstáculo água. Nela entrou arte, com obras de artistas diversos, que trabalharam o tema água. Nela entrou cidadania, com a questão das enchentes. Nela entrou, obviamente, ecologia, com a questão do futuro e a finitude da água.
Nela entrou outra coisa – que a Oca deixou entrar.
Havia obras interativas, vídeos, fotos, textos... e entre esses, misturados neles, havia vídeos, fotos e textos... igualmente interativos, igualmente informativos... peraí!
Esses outros estavam em stands PATROCINADOS, no meio da exposição! Como que fazendo parte dela! Um stand da Petrobrás (escute bem) Petrobrás, com vídeos e textos informativos... informativos!?! Um stand do Bradesco, com obras interativas... obras!?!?
Sim, o que entrou na exposição também foram marcas.
A que ponto chegamos!?
O patrocínio entrou (entrou), no último local da arte livre, da rebeldia, da expressão humana desinteressada: o museu! O patrocínio entrou nos museus e se misturou às obras.
Isso não pode ser permitido. Isso é uma afronta. Os textos dos stands patrocinados NÃO são informativos – são propaganda. As obras interativas não são obras – não são nada, são lixo comercial. Isso não pode ser misturado. A gente não pode deixar...
Não sei se todo mundo percebeu, mas o cinema (a sétima arte?), o cinema, tem um filme – o Náufrago – que tem um ator que está tão bem... “um show de interpretação” disseram. “Ele passa o filme contracenando com uma bola, fantástico, foi até indicado ao Oscar...”, o Tom Hanks é mesmo... O Náufrago é um comercial de duas cansativas horas da Fedex. Ah, quer dizer, duas horas e quinze minutos. Um comercialzão. “mas o cenário é tão lindo...”
“Mas a arte não vive sem patrocínio...” É, talvez não viva mesmo. Eu escrevo pra televisão, e não existe nada mais comercial que isso – a televisão passa anúncio, e entre um anúncio e outro, passa um programa pra te distrair – mas TV não é arte. Arte é arte. Informação científica é informação científica. Belo é o Belo. E estética e ética são conceitos caros à nós.
Então patrocínio não pode ser misturado. Apoio é uma coisa – patrocínio dentro de museu misturado às obras é outra muito diferente. E se a gente não prestar atenção na diferença, os vídeos do Bradesco, da Petrobrás, e da Fedex, vão ser as obras que vamos admirar daqui uns anos.
E as informações que a Petrobrás nos passa sobre o Pré sal vão virar textos científicos aceitos.
14 dezembro, 2010
09 dezembro, 2010
De como embrulhei meu primeiro presente de natal para uma criança
Lembro que quando eu era criança, a árvore de Natal sempre aparecia cheia na manha do dia 25 de dezembro. Eram vários presentes embaixo. Até os meus oito ou nove anos de idade minha família era rica, e podia encher as crianças da casa (eu, no caso) de mimos natalinos.
Acho que nunca gostei realmente do Natal depois dessa idade. Lembro de, durante anos seguidos, pedir chocolate de presente de Natal!
Ainda não gosto. um porque sou contra o catolicismo, dois poruque tem um lado meu que abomina o consumismo exacerbado. Alguns de meus amigos dizem que é meu lado hippie, outros, que são provavelmente mais hippies, simplesmente concordam comigo e tecemos longas discussões sobre isso em butecos da cidade, consumindo... cerveja.
Detalhes religiosos ou econômicos a parte, o Natal na minha casa, há tempos, não tem mesmo muita graça. É uma desculpa para parentes que não se vêem o ano todo, se reunirem numa noite, com os cabelos arrumados.
A melhor parte da festa, pra mim, é o pro secco, as farofas e o Perú. Mesmo assim, ainda me deprimo um pouco com a imagem do cadáver do peru na mesa... (meu lado hippie de novo)
O Natal desse ano, que teria tudo pra ser igual, vai ser um pouco mais triste. A falta que meu avô faz vai estar presente, pois era sempre ao lado dele que eu passava grande parte da noite, ouvindo as animadas histórias que ele tinha pra contar.
Mas o Natal está aí, não é mesmo? Presente (desculpe o trocadilho) nas ruas, nas incontáveis guirlandas e luzinhas, nos enfeites horrorosos de shoppings, e nos pouquíssimos criativos comerciais de televisão especiais para a data. E isso enche os olhos da gente, da gente que gosta de presente, de surpresa e, principalmente, de esperança (eita palavrinha!). Mais ainda das crianças, as que sabem que vão acordar com a árvore cheia de presentes, como eu, vinte anos atrás... e enche os olhos também das outras crianças, as que não vão acordar com presentes embaixo da árvore, mas que assistem, como as primeiras, ao mesmo desfile de enfeites nas ruas e propagandas na televisão.
Pois se o Natal é indiferente pra mim... (menos por causa do trânsito surreal que espalha pela cidade), não é pra elas. E foi por isso que eu fui até o Correio, semana passada.
Fiquei sabendo por um amigo meu desse projeto. Você vai lá, lê as cartinhas que as crianças escreveram pro Papai Noel, escolhe uma ou mais, e leva o presente, para que o Correio entregue pro dono da carta.
Pois eu fiz isso. E, vou confessar que me surpreendi um pouco com os tipos dos pedidos das crianças. Os habituais bicicleta e patins, povoaram cerca de 70 por cento das cartas, me deparei com inúmeros pedidos de lap tops – devo estar mesmo com os primeiros sinais da idade por me surpreender com crianças de oito anos pedido lap tops – a maioria era do lap top do Ben 10 ( o que só veio confirmar a minha observação sobre o poder mítico que o consumismo imposto pela televisão que povoa a mente dessas crianças, que assistem diariamente a um desfile de marcas e produtos que trazem “felicidade instantânea”, e que nunca poderão ter)
Eis que encontro as minhas cartinhas, as duas com as quais me identifiquei, me emocionei. Uma menininha de oito anos que quer um fogaozinho para cozinhar para suas bonecas. E uma avó, que escreve pedindo uma bola de futebol, que ela quer muito poder dar de presente ao neto de nove anos.
Percebam, leitores, que não é preciso ser nenhum Freud para sacar porque me emocionei com a cartinha escrita pela avó...
Hoje foi uma tarde que estive especialmente magoada. Especialmente descrente. Especialmente sensível.
Uma tarde vagarosa...
Nessa tarde terminei de ler Quincas Borba e fechei o livro na palavra fim – finais de livro me entristecem de uma forma toda especial – finais de livro do Machado de Assis são, ainda mais, especialmente tristes. Os fins do machado são geniais. Geniais porque são incrivelmente realistas. Porque são incrivelmente desenperançosos. Porque são tristes e simples. (porque insisto em terminar livros em tardes melancólicas em que já estou abalada?)
E foi assim, numa tarde vagarosa e triste, que eu peguei o papel craft (os Correios falaram que tinha que ser papel craft) e pela primeira vez na vida eu sentei no chão, com papel de embrulho, durex, e brinquedos cuidadosamente escolhidos por mim, e embrulhei presentes de natal para duas crianças!
Talvez porque tarefas manuais relaxem. Talvez porque embrulhos pra mim sejam complicados de fazer e isso me centrou. Talvez porque eu tenha criado na minha imaginação toda a cena daquela menininha cozinhando e daquele garotinho fazendo embaixadinhas, com coisas simples que correm muito longe de idéias de Bens 10, Guirlandas de Shoppings e luzinhas de Natal das mansões do Morumbi. Ou talvez porque é a mais absoluta verdade o fato de que, quando tentamos fazer algo bom pra alguém, a alma que mais sai ganhando, de longe, é a nossa...
Talvez por tudo isso junto, misturado com o desastroso resultado dos embrulhos, o que resultou em risinhos internos... A minha primeira experiência em embrulhar um presente de natal para uma criança nem por um segundo me devolveu a fé na humanidade e na bondade dos homens, mas foi uma das coisas mais deliciosas que eu fiz nessa última semana. E me inspirou de verdade.
E a tarde deu até uma iluminada (nossa, que breguice, preciso tomar cuidado com espírito do cafona, muito presente nessa época do ano)
P S – Só espero que a avó desse menino pegue o embrulho nos Correios, e reembrulhe o presente, porque senão o garoto vai perder toda a fé no Papai Noel, achando que o bom velhinho pôde ter feito aquele embrulho horrendo.
P S 2 – aviso importante, esse texto não é uma propaganda mal paga das Agências dos Correios.
Acho que nunca gostei realmente do Natal depois dessa idade. Lembro de, durante anos seguidos, pedir chocolate de presente de Natal!
Ainda não gosto. um porque sou contra o catolicismo, dois poruque tem um lado meu que abomina o consumismo exacerbado. Alguns de meus amigos dizem que é meu lado hippie, outros, que são provavelmente mais hippies, simplesmente concordam comigo e tecemos longas discussões sobre isso em butecos da cidade, consumindo... cerveja.
Detalhes religiosos ou econômicos a parte, o Natal na minha casa, há tempos, não tem mesmo muita graça. É uma desculpa para parentes que não se vêem o ano todo, se reunirem numa noite, com os cabelos arrumados.
A melhor parte da festa, pra mim, é o pro secco, as farofas e o Perú. Mesmo assim, ainda me deprimo um pouco com a imagem do cadáver do peru na mesa... (meu lado hippie de novo)
O Natal desse ano, que teria tudo pra ser igual, vai ser um pouco mais triste. A falta que meu avô faz vai estar presente, pois era sempre ao lado dele que eu passava grande parte da noite, ouvindo as animadas histórias que ele tinha pra contar.
Mas o Natal está aí, não é mesmo? Presente (desculpe o trocadilho) nas ruas, nas incontáveis guirlandas e luzinhas, nos enfeites horrorosos de shoppings, e nos pouquíssimos criativos comerciais de televisão especiais para a data. E isso enche os olhos da gente, da gente que gosta de presente, de surpresa e, principalmente, de esperança (eita palavrinha!). Mais ainda das crianças, as que sabem que vão acordar com a árvore cheia de presentes, como eu, vinte anos atrás... e enche os olhos também das outras crianças, as que não vão acordar com presentes embaixo da árvore, mas que assistem, como as primeiras, ao mesmo desfile de enfeites nas ruas e propagandas na televisão.
Pois se o Natal é indiferente pra mim... (menos por causa do trânsito surreal que espalha pela cidade), não é pra elas. E foi por isso que eu fui até o Correio, semana passada.
Fiquei sabendo por um amigo meu desse projeto. Você vai lá, lê as cartinhas que as crianças escreveram pro Papai Noel, escolhe uma ou mais, e leva o presente, para que o Correio entregue pro dono da carta.
Pois eu fiz isso. E, vou confessar que me surpreendi um pouco com os tipos dos pedidos das crianças. Os habituais bicicleta e patins, povoaram cerca de 70 por cento das cartas, me deparei com inúmeros pedidos de lap tops – devo estar mesmo com os primeiros sinais da idade por me surpreender com crianças de oito anos pedido lap tops – a maioria era do lap top do Ben 10 ( o que só veio confirmar a minha observação sobre o poder mítico que o consumismo imposto pela televisão que povoa a mente dessas crianças, que assistem diariamente a um desfile de marcas e produtos que trazem “felicidade instantânea”, e que nunca poderão ter)
Eis que encontro as minhas cartinhas, as duas com as quais me identifiquei, me emocionei. Uma menininha de oito anos que quer um fogaozinho para cozinhar para suas bonecas. E uma avó, que escreve pedindo uma bola de futebol, que ela quer muito poder dar de presente ao neto de nove anos.
Percebam, leitores, que não é preciso ser nenhum Freud para sacar porque me emocionei com a cartinha escrita pela avó...
Hoje foi uma tarde que estive especialmente magoada. Especialmente descrente. Especialmente sensível.
Uma tarde vagarosa...
Nessa tarde terminei de ler Quincas Borba e fechei o livro na palavra fim – finais de livro me entristecem de uma forma toda especial – finais de livro do Machado de Assis são, ainda mais, especialmente tristes. Os fins do machado são geniais. Geniais porque são incrivelmente realistas. Porque são incrivelmente desenperançosos. Porque são tristes e simples. (porque insisto em terminar livros em tardes melancólicas em que já estou abalada?)
E foi assim, numa tarde vagarosa e triste, que eu peguei o papel craft (os Correios falaram que tinha que ser papel craft) e pela primeira vez na vida eu sentei no chão, com papel de embrulho, durex, e brinquedos cuidadosamente escolhidos por mim, e embrulhei presentes de natal para duas crianças!
Talvez porque tarefas manuais relaxem. Talvez porque embrulhos pra mim sejam complicados de fazer e isso me centrou. Talvez porque eu tenha criado na minha imaginação toda a cena daquela menininha cozinhando e daquele garotinho fazendo embaixadinhas, com coisas simples que correm muito longe de idéias de Bens 10, Guirlandas de Shoppings e luzinhas de Natal das mansões do Morumbi. Ou talvez porque é a mais absoluta verdade o fato de que, quando tentamos fazer algo bom pra alguém, a alma que mais sai ganhando, de longe, é a nossa...
Talvez por tudo isso junto, misturado com o desastroso resultado dos embrulhos, o que resultou em risinhos internos... A minha primeira experiência em embrulhar um presente de natal para uma criança nem por um segundo me devolveu a fé na humanidade e na bondade dos homens, mas foi uma das coisas mais deliciosas que eu fiz nessa última semana. E me inspirou de verdade.
E a tarde deu até uma iluminada (nossa, que breguice, preciso tomar cuidado com espírito do cafona, muito presente nessa época do ano)
P S – Só espero que a avó desse menino pegue o embrulho nos Correios, e reembrulhe o presente, porque senão o garoto vai perder toda a fé no Papai Noel, achando que o bom velhinho pôde ter feito aquele embrulho horrendo.
P S 2 – aviso importante, esse texto não é uma propaganda mal paga das Agências dos Correios.
06 dezembro, 2010
Pornopopéia again
Só dei uma passada rápida no meu blog abandonado nesse final de ano para lembrar de uma coisa:
Recomendo putaqueopariu demais a leitura de Pornopopéia
Que como eu contei aqui, eu li.
E se a minha recomendação não basta - recomendo a matéria que saiu na Ilustríssima da Folha desse domingo
Ou dá pra ler on line por aqui, que pra falar a verdade foi o que eu fiz.
Outro dia eu volto a questão existencial do abandono do blog... Abandono momentâneo, que fique bem claro!
Assinar:
Postagens (Atom)