Essa pontinha é conhecida como o Fim do Mundo. Tierra Del Fuego.
Seria nosso primeiro reveillon junto, como namorados, digo. Os outros passamos como companheiros de “outras viagens” .
Da ideia surgiu outra, vamos chama-los? Lógico.
Bidi e Yumi toparam. Toparam ir praquela pontinha.
E toparam também alugar um carro, e rodar pela Patagônia durante dez dias.
Minha ideia sobre viver é ganhar o mundo. E minha forma favorita de ganha-lo é viajando. Viajando sempre. E rodando. Viajo bastante. Inclusive já andei dividindo aqui minhas caminhadas
EL CALAFATE – AS FLORES
(Calafate é o nome de uma frutinha que existe somente na Patagônia. Vale roubar umas do arbusto)
Flores de alfazema
Arbusto cheio de calafate
Pousamos em El Calafate no dia 25 de Dezembro de 2011. A região tem clima desértico. Isso significa que é seca, super seca. O céu é limpo, ultra limpo. O sol é forte, mega forte. E venta frio, muito frio. Quem já foi pra regiões de deserto sabe. Eu já sabia, pois já tinha estado no Atacama. O negócio é meio esquizofrênico. Você sai com todas as opções de roupa, uma em cima da outra. Se você fica no sol, em minutos está derretendo, se pisa na sombra, já precisa pôr duas blusas. E se está no sol de camiseta e bate um vento, dá-lhe meter gorro e cachecol. Mas te garanto que essa bipolaridade climática não é nenhum empecilho, muito pelo contrário, é uma delícia essa sensação de sentir de verdade o que um clima extremo pode fazer por você.
A dica é, assim que você pousar no aeroporto de El Calafate, que fica cerca de 20 km da cidade, vá direto ao balcão se informar sobre o ônibus que leva pra cidade. Só sai um, e ele não comporta todos os passageiros do avião, portanto, se lotar, você sobra. É claro que você não vai ficar preso no aeroporto, pois ainda tem a opção de ir de taxi, mas é mais caro.
Em dezembro de 2011 estava 33 pesos a passagem de ônibus e 100 pesos o taxi. Se você estiver em uma ou duas pessoas, o taxi sai bem mais caro. Se você estiver em três ou quatro pessoas, aí já vale mais a pena o taxi.
PARENTESES SOBRE SORTE E AZAR
Numa de nossas reuniões de preparação para a viagem a Yumi falou: Eu não sei por que, mas eu sou muito sortuda em viagens. Eu nunca me organizo, nunca preparo nada, e tudo dá certo pra mim. Questão de sorte, no real significado da palavra – E ela deu três ou quatro exemplos da impressionante (e hoje, depois de testemunha-la, invejável eu diria) sorte dela.
Muitas pessoas acham que sorte e azar são relativos, duas faces da mesma moeda, sorte ou azar, na verdade, dependeriam do ângulo que você olha. Eu adoraria concordar com esse mantra iluminado, mas isso simplesmente não é verdade. Sorte é sorte e azar é azar. Isso eu sei.
Mas o que eu aprendi nessa viagem é que:
1 – Caio e eu estávamos com azar, desde que pousamos no aeroporto de Buenos Aires.
2 – A gente não via a hora da Yumi e sua bunda pra lua chegar e mudar nossa sorte.
3 – Ela chegou e tudo, tudo mudou na hora, e nós passamos a ter os dez dias mais sortudos que eu já presenciei.
Mas eu aprendi outra coisa também, um outro tipo de perspectiva positiva, incrivelmente verdadeira e testada empiricamente: “os últimos serão os primeiros”
OS ULTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS ou “se você for o primeiro carro na fila da balsa, é porque você acabou de perder a anterior”
Como eu e o Caio pousamos em El Calafate umas cinco horas antes do Bidi, da Yumi e da maré de sorte dela, eu segui até o balcão do ônibus e a pessoa que estava exatamente na minha frente comprou as duas últimas passagens. Foi assim que eu aprendi que o único ônibus não comporta todos os passageiros do avião, e foi assim que eu aprendi que o taxi, em dois, sai mais caro. Portanto, fica a dica. (corra para pegar o ônibus)
(Depois de algumas horas a Yumi chagou e nos encontrou em El Calafate. Ela chegou contando animadamente que, por sorte (ahh) ela comprou as duas últimas passagens do ônibus (eu imagino o que o espécime atrás dela possa ter sentido). E foi nesse momento que começou nossa história de sorte, e de sermos os últimos.)
De toda forma, Caio e eu pegamos o taxi com um velhinho cujo apelido era Menino (?)
Menino nos contou que nasceu em El Calafate. De fato, seus pais foram praticamente os primeiros habitantes da cidade.
A cidade El Calafate praticamente existe graças ao turismo. Mais ainda, graças ao turismo ao Glaciar Perito Moreno. Segundo Menino, entre o ano de 2002 e 2011 a cidade passou dos 4mil para 20mil habitantes. Um crescimento absurdo de 16 mil habitantes em dez anos!
El Calafate é uma cidade lindinha e, como toda cidade turística, carinha. Suas ruas centrais são tomadas quase que exclusivamente por agências que vendem os passeios. Lojas de chocolate. Restaurantes. Lojas de artigos de trekking.
É uma cidadezinha de fato muito, muito agradável.
POSTA SUR
Em El Calafate ficamos na Hosteria Posta Sur. Guarde esse nome se estiver pensando em ir pra lá. O Posta Sur é fofo. O Rúben, o atendente venezuelano do balcão faz de tudo pra te atender bem. A única coisa que ele não pôde fazer foi driblar o fato de que o Hostel não estava aceitando (“temporariamente”, segundo a placa) nenhum cartão. E isso, numa viagem ao exterior, pode mesmo quebrar as pernas. Por isso, se estiver pensando em bookar o Posta Sur, certifique-se se eles já estejam aceitando cartão.
(Nós bookamos todos os hotéis no booking.com recomendo muito!)
O desayuno (café da manhã) era uma delícia. Mas não tivemos a mesma sorte nas outras hosterias, por isso, certifique-se também do que é servido no desayuno antes de escolher um hostel pra ficar. Geralmente, na Patagônia, o desayuno é composto de café com leite e media luna (que é tipo um croissant doce, uma delícia!!) só. Essa é uma dica pra quem faz questão de um café ultra reforçado, eu por minha bem particular parte, comeria media lunas durante meses a fio, amarradona. É uma iguaria patagônica!
POR FALAR EM SORTE...
O espanhol é uma língua com a qual eu simpatizo muito. E duas coisas sempre me chamam atenção quando viajo pela América do Sul, duas manias linguísticas dos nossos hermanos.
Uma delas, da primeira vez que ouvi, quando fui pro Chile, eu achei meio mal educada. No começo, não tinha sacado. Quando fazemos uma pergunta, cuja resposta é positiva, eles respondem “claro”. - “Claro” - e continuam a falar. Mas sempre tem o “claro” antes. E fica parecendo mal educado porque é como se eles respondessem uma pergunta que você fez com um “óbvio”! Ou “óbvio, seu otário”.
Parece mesmo pelo modo como é dito. É um “claro” seco e firme. Mas não é nada disso. Pra nós, em português, seria algo como o “é isso mesmo”, ou simplesmente “é”.
- “A rua tal é a próxima a esquerda?”. “Claro!” - Como assim “claro” caralho, pra você é claro, pra mim não! - Mas eu saquei que esse claro é mania de linguagem.
- “A rua tal é a próxima a esquerda?”. “É”.
A outra me chamou muito atenção. E é uma preciosidade linguística. Na Patagônia toda, chile e argentina, sempre que nos despedíamos de alguém (do local). A pessoa falava: “tchau, suerte”. Não é demais? “tchau, suerte”! Lindo.
Por isso vou emprestar essa generosidade linguística dos nossos hermanos.
Tchau, suerte!
Até os próximos posts patagônicos
Nenhum comentário:
Postar um comentário