15 julho, 2009

Sobre um belíssimo filme francês

Ontem eu assisti o filme Bem Vindo, de Philippe Lioret. Um filme lindo. Irretocável.
Um filme sobre um imigrante ilegal na França. E sobre um francês que tenta ajudá-lo.

Sim, é mais uma história sobre o problema da imigração ilegal em países europeus. Mas não é mais uma historia sobre isso.
É UMA historia.

E uma historia escrita com simplicidade, com olhares, com gestos, ações e poucas palavras.

É a história de um francês que tem uma boa vida na França, mas é triste. Perdeu o motivo.
E é sobre um iraquiano com uma péssima vida na França. Mas que tem um motivo. Está apaixonado. É uma história sobre um homem que achou no motivo do garoto o seu motivo. A sua obstinação.

Estou lendo um livro chamado Story. Um livro sobre teoria de roteiro de um autor chamado Robert Mackee.

Robert Mackee fala que o cinema está carente de boas histórias (estórias).
Sobra tecnologia, efeitos, personagens, diálogos obscuros e bem escritos, descrições litúrgicas. Mas faltam historias.

Em uma passagem que me chamou muita atenção Mackee fala o seguinte:
“O mundo hoje consome filmes, romances, teatro e televisão em tanta quantidade e com uma fome tão voraz que as artes da estória viraram a principal fonte de inspiração da humanidade, enquanto ela tenta organizar o caos e ter um panorama da vida. (...)

A estória não é uma fuga da realidade, mas um veículo que nos carrega em nossa busca pela realidade, nossa melhor tentativa para descobrir algum sentido na anarquia da existência.

Ainda assim, enquanto o alcance expansivo da mídia nos dá a oportunidade de mandar estórias através das fronteiras e linguagens para centenas de milhões, a qualidade geral das estórias vem se desgastando.(...)
Na maior parte do tempo cansamo-nos de sair do cinema suavizando nossa decepção com “mas a fotografia estava linda...”
Robert Mackee

Quantas vezes você não elogiou a fotografia de um filme? E só a fotografia?
O que nos pega em alguns filmes, geralmente, é apenas a estética, a história não nos captura.
(Parece que já vimos aquilo milhares de vezes.)

Sim, todas as histórias do mundo já foram contadas. Isso porque historias são contadas sobre humanos, por humanos (demasiado humanos). O que faz uma historia não é o que se conta. Mas como se conta.

Philippe Lioret contou mais uma história de um menino ilegal em um país estrangeiro. Mas contou de sua forma. Uma forma humana que fala com o coração de qualquer pessoa que assista ( fala de sentimentos universais)

Esse filme me mostrou o que eu já desconfiava. Que roteiros são feitos de palavras. Mas filmes são feitos de olhares, de atores e atuações, feitos de gestos, de sorrisos e de silêncios. Não de diálogos apenas. Não de narrações.

As letras inspiram os filmes. E os filmes podem nos inspirar a escrever. E podem nos inspirar a agir, ou sentir. Filmes são feitos de sentimentos humanos, para instigar sentimentos que não tínhamos sentido antes. Filmes falam de sentimentos para apontar sensações.

Foi o que Mackee tentou dizer. Foi o que Philippe Lioret mostrou. Foi o que aconteceu com a França depois de Bem Vindo (o filme instigou discussões sobre mudanças na lei de imigração no pais)

Outros filmes panfletários não fizeram isso. Porque Bem Vindo não fala de política. Fala de pessoas.






Esse post é sobre o filme de Philippe Lioret, sobre o livro de Robert Mackee, e tbm sobre um dia perfeito.
A manha tranqüila ao lado da minha mãe e dos meus cachorros. O papo gostoso com a kel no telefone...
Esse post é sobre ir dormir pensando que é desses retalhos de momentos que tecemos essa coisa que chamamos de vida.

3 comentários:

  1. Esse post é sobre pessoas... eu, você, todos nós.
    AMEI!
    AMO!
    Me aposso do comentário do Cassio e o reproduzo: BRAVO!

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  2. um filme ou uma pag bem encaixada no dia e um encontro gostoso abrem a vida
    toller

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