25 novembro, 2009

Alma Imoral

Assisti ontem. A peça. "A Alma Imoral". To até agora tentando decidir o que eu achei.


Só pra resumir, a peça é um monólogo da atriz Clarice Niskier. Uma adaptação dela mesma do livro do rabino Nilton Bonder.


Bem... até aí tudo bem. O ponto alto, e inegável, é a força de Clarice no palco. Forte e leve. Nua e escancarada. Linda, linda.


Também não podemos negar que o texto (do Nilton) é muito bom. Na verdade, trechos de seu livro.


Agora... a palavra adaptação é que eu questiono. Clarice abre a peça como "ela mesma" (na verdade ela não deixa de ser "ela mesma" durante todo o espetáculo... um ela mesma muito bom, mas ela mesma) conversando com a platéia sobre os motivos que a levaram a montar esse texto. Bom começo, diga-se de passagem. Engraçado. Com ótimas tiradas. A partir daí... é que a palavra adaptação desaparece.


Clarice simplesmente faz uma leitura de passagens do livro do Nilton. Uma leitura dramática, é verdade. Com bons momentos de gestos e luz. Mas uma leitura.


Aí me pergunto... mas e daí que é somente uma leitura. Você iria ler o livro, por um acaso?

Não sei. Não sei tbm porque encrenquei com o fato de ser uma leitura pura e simples. Adoro ler pros outros também... acho contação de histórias uma delícia...


Também sempre, como roteirista e atriz, questionei qualquer que fosse o gesso: "tem que ter personagem", tem que ter ação dramática", "tem que ter..."

Por isso ainda não sei o que achei...


No começo da peça, a própria atriz nos avisa que ela quase desistiu do projeto justamente porque o texto não tinha ação dramática: "Como vou transportar isso pro teatro?" Ela diz.
E depois a própria diz que, se dentro dela tantos conflitos se criaram quando ela lia, então como assim não tem ação?

Foi um aviso? Ou uma intuição?

Ou ela falou isso pra mim, antevendo que eu ia encrencar...

Bom... No fim da peça podemos falar sobre o texto. E quase mais nada. A não ser o fato de que Clarice é uma ótima contadora de histórias.


Sobre o texto?

Achei interessante o fato de ter sido escrito por um rabino. O representante alto de uma religião. E o texto dialoga sobre a importância da desobediência, tanto das tradições quanto da própria religião. Um texto religioso a favor do humano sobre o divino. Corajoso.

É claro que todas as parábolas contadas , bíblicas ou não, podem ser transportadas para nossa vida. Todas nos fazem pensar demais e nos tocam. Entretanto, talvez eu não seja o público.

Primeiro porque não sou religiosa. Segundo, porque depois de doze anos de terapia, já sei lidar bem com a desobediência. E sei romper com tradições também.

Mas tem uma passagem muito bacana que diz que: "O difícil não é saber quando o certo é certo e quando o errado é errado. O difícil é saber quando o certo é errado e o errado é certo" "compreender um conceito pelo seu contrário é fotografar a alma";

No momento em que eu saí da peça pensei justamente isso: eu não sou o público. Essa peça é feita para criaturas que sempre andaram reto, fizeram o correto, presas em tradições, religiões, família, empregos, casamentos... Eu vivo no caos. No todo-lugar. No meio do mar bravo. Não nadando a favor nem contra, mas no meio da correnteza...
Eu precisava mesmo é de paz, equilíbrio, tranquilidade...

E foi aí... aí que eu percebi o caos no qual eu estou. No quanto meu cérebro roda e eu não sei como agir. No quanto eu sou livre mesmo... e precisava de pregas às vezes.

Então, foi pela peça tranquila que eu entendi meu caos.

Palmas pra peça da Alma Imoral, que eu, confundida pelo meu próprio inconsciente, nem gostei tanto.


PS - Queria deixar registrado que a minha insônia sarou. Durmo muito bem já faz pouco mais de dois meses. Talvez essas sejam as primeiras notícias de mares mais calmos...

PS 2 - Com ou sem insônia eu sonho toda noite. Sempre colorido.
Muitas vezes, com áudio.

2 comentários:

  1. Talvez você nem tenha percebido, mas você é sim o público.
    Não saiu de lá se questionando?
    Concordo que não seja a pessoa que precisa ter incentivos pra quebrar regras, mas só o fato de ouvir que existem pessoas que não as quebram nos faz refletir sobre como levamos a nossa vida... e tomar as decisões que julgamos necessárias.
    Sei lá... devaneios

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