30 março, 2010

Historinha

Primeiro foram as mordidas no sanduíche suculento... de carne rosada. Hambúrguer.
E ele olhava pra ela com aqueles olhos pretos. Olhos de anjo sem asas. E um sorriso que a deixava completamente sem graça.

E ele a adorava; Adorava o que ela falava. Como ela ria. E ela ia ficando cada vez mais a vontade... seus beijos iam ficando cada vez mais familiares.

Uma garrafa de vinho. E os beijos, de familiares iam se tornando indispensáveis, urgentes.

Parecia que se conheciam há meses... mas não chegava nem perto disso.

Ambos gozaram. E dormiram aquele sono pesado... que dura minutos mas parece toda a eternidade.
(os anjos não têm sexo?)

E, ao despertar, ela se encontrou de novo. Encontrou-se e encontrou onde estava. Novamente.


Ele percebeu a mudança; Apertava-a. Forte. “Fica aqui”

Não. Ela não queria ficar. Queria fugir. Sumir. Voltar. (voltar pra onde? Pra quando)
De repente o que parecia certo e familiar, tornou-se algo estranho. Monstruoso. E ela não cabia dentro de si. Como poderia caber dentro dele, mas não dentro de si?

Ela só coube em alguém. Uma vez.

E apavorada. Completamente apavorada. Ela fugiu.

Fugiu pra dormir o sono de minutos... e da eternidade... em outro lugar.

26 março, 2010

In On It

Sabe essas coisas imperdíveis?

A peça In On It tá em cartaz no Teatro da FAAP. Fui assisti-la domingo. De novo.

Fui em outro domingo com um grande amigo. Dramaturgo. Sensível.

Fui de novo porque gostei do texto
Fui de novo porque gosto de arrastar as pessoas para coisas que acho boas.

Arrastei minha irmã e uma amiga de longa data. Me agradeceram no fim:

“Indica sempre que tiver essas coisas legais.”

“Indico”

In On It tem dois atores, Emílio de Mello e Fernando Eiras, duas cadeiras e um casaco.

“O riso leva a gente onde o pensamento não vai. Mas esse riso nasce das lágrimas.
Talvez seja isso que o autor queira nos dizer. Que não devíamos parar pra controlar, possuir, definir, mas ir adiante, sempre adiante, como a música.”

Quem disse isso foi o Fernando Eiras, roubei do programa da peça.

O texto do canadense Daniel Macivor é irretocável. Quer dizer, provavelmente os atores e o diretor tocaram e retocaram o texto... anyway. O resultado é perfeito.

Tragicômico. Dolorido e engraçado. Como a própria vida.

Há quem diga que a vida é uma aventura. Há quem diga que é um drama. Um romance, uma novela...
Pra mim o único gênero cabível pra vida é a Tragicomédia!


É sabido que sempre que uma nova forma de expressão artística aparece. Aparece com ela a polêmica de se ela vai substituir a anterior.

A verdade é que o que vemos, sempre, é a anterior se recriando.

Foi assim com a Pintura, quando surgiu a Fotografia: como, agora, a foto podia “mostrar” a realidade, coube a Pintura representá-la.
Representar a realidade pelos olhos sensíveis do artista.

A mesma polêmica circundou o Teatro, quando do nascimento do Cinema.

E eu, por minha bem particular parte, acredito que o Teatro mega realista perdeu sua razão de ser.

Mas o Teatro se achou e se recriou divinamente em formas que só, e somente só, fazem sentido em um palco.

In On It é isso!

25 março, 2010

Meu

Meu, será que alguém já morreu no trânsito de São Paulo?



Não, não to falando de acidentes. To falando parado mesmo. Apodrecido dentro do carro.

Hummm

humm, seguinte:

Esse blog tá mesmo em um momento animal. (animal mesmo. Não um momento "animal", essa gíria meio boba que quer dizer "muito legal" )

Por isso decidi por bem (meu, no caso), publicar algumas coisinhas que remetam ao tema

(isso de remeter ao tema é tão "coisa de roteirista"... ai preciso parar com isso!)

Anyway, vamos ao tema:

Filhote é foda! Pode ser filhote de rato, é sempre a coisa mais gostosa.
Como meu blog, a despeito de alguns fatos, pretende ser um espaço criativo... não vou postar aqui um filhote fofo de gatinho, cachorrinho, coelhinho...

Mas alguém já viu filhote de porco-espinho?



































Não é muito nhami!?!


Bom... mas já que estamos no assunto bichinhos, que eu amo.
E já que estamos aqui, não é? Vou juntar ao tema outra paixão minha. Chocolate

Ou, como diria Homer Simpson, chooocccoooollllaaaattteeeee (babando)

E já que estamos falando em assuntos de meu próprio interesse, vamos ao meio ambiente.

Sim, sou mega ultra preocupada com o meio ambiente. E quem acompanha o blog sabe: adoro eco trip, já fiz programa ambiental, e sou voluntária do Greenpeace.

Portanto, acho de bom tom colocar esse vídeo aqui que, como boa (??) roteirista que sou, achei que traduzia em imagens os tres temas que acabei de apresentar-lhes: bicho, chocolate e meio ambiente






Não to querendo, mesmo, ser panfletária. E longe de mim transformar esse espaço agradável em um espaço chato de informações disso ou daquilo. Mas eu to avisando porque eu também não sabia dessa história toda.
E também comi muito Kit Kat por aí... Mas é que as informações chegam mais fácil pra mim, que to na área. Então, pra quem quiser saber, não custa nada. E mais, Kit Kat nem é assim tão gostoso. Sou bem mais um Ouro Branco

INFORMAÇÕES:

Protestos pipocaram por toda a Europa contra a destruição das florestas que servem de habitat para orangotangos na Indonésia. O motor dessa devastação, que colocou os primatas à beira da extinção, é a conversão do uso do solo de mata virgem para o plantio de palmáceas.
A Nestlé, que sustenta essa atividade comprando óleo de palma da Indonésia para produzir chocolates como o Kit kat, foi o alvo das manifestações no continente europeu, parte de uma campanha global que o Greenpeace lança hoje contra a companhia. A Nestlé por enquanto continua jogando de ponta de lança no time das empresas que estimulam a destruição das florestas tropicias.

Além de financiar a derrubada em massa de mata na Indonésia e empurrar os orangotangos para o abismo da extinção, a Nestlé está contribuindo para agravar o aquecimento global. Florestas ajudam a regular o clima e acabar com o desmatamento, uma das maneiras mais rápidas de reduzir as emissões de Co2 na atmosfera.

Foi por isso que escritórios da Nestlé na Inglaterra, Holanda e Alemanha acabaram sendo palco de protestos por ativistas do Greenpeace, pedindo para que a empresa deixe de utilizar óleo de palma proveniente da destruição de área antes ocupada por florestas na Indonésia.

Além da produção de óleo de palma, a Sinar Mas também é proprietária da Ásia celulose, a maior empresa de papel da Indonésia. A empresa também infringe a lei da Indonésia ao destruir as florestas protegidas para cultivar plantações de óleo de palma.

Como todos devem saber, a Nestlé é a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo. O que ninguém sabia até então era que a empresa também é um grande consumidor de óleo de palma produzido às custas do desmatamento das florestas tropicais. Nos últimos três anos, a utilização anual do óleo quase duplicou, alcançando a marca de 320000 toneladas que entram em uma enorme gama de produtos, incluindo o chocolate mega popular KitKat, que não é vendido no Brasil.

"Toda vez que você der uma mordida em um KitKat, você pode estar dando uma mordida nas florestas tropicais da Indonésia, que são fundamentais para a sobrevivência dos orangotangos. A Nestlé precisa dar aos orangotangos uma pausa e parar de utilizar óleo de palma de fornecedores que estão destruindo as florestas", disse Daniela Montalto, do Greenpeace internacional.

Diversas empresas importantes, incluindo a Unilever e Kraft, cancelaram os contratos de óleo de palma com a Sinar Mas. A Unilever cancelou um contrato de 30 milhões de dólares no ano passado. A Kraft cancelou o seu em fevereiro. "Outras grandes empresas estão agindo, mas a Nestlé continua fechando os olhos para os piores infratores. É tempo de a Nestlé cancelar seus contratos com a Sinar Mas e parar de contribuir com a destruição das floresta tropical e de turfas,"



Meu, o orangotango é um bicho lindo. Parece a gente!
E só tem mais uns 100 mil no mundo. Parece muito? Mas não é!
É o que cabe de gente no Estádio do Morumbi.
Por sinal, informação do querido Fabio, é até menos.

Temos menos orangotangos no mundo do que tinham torcedores do Corinthians e da Ponte Preta no Morumbi na final do campeonato paulista de 1977. (É... o Fábio é mega enciclopédia futebolística)


Ok, já fiz aqui minha gritaria do dia. Quando descobrir mais coisas que a gente pode fazer pra proteger algo, eu aviso!

Mas... já que estamos aqui, e o assunto é animal (de novo, não é a gíria, nem um trocadalho tosco) não resisti em encher a conversa com fotos de bebes que raramente vemos:













23 março, 2010

Quando eu crescer eu quero...

Ai, putz! Toda hora eu esqueço que eu já cresci!

19 março, 2010

Shh...

Shh...







>

Ahhh

1 - Delicate, Damien Rice

2 - It`s, Oh, So Quiet, Bjork

3 - La Mer, Charles Trenet

16 março, 2010

Tá, vou falar a verdade:

- Não gosto de Coca Cola

- Tenho pena de matar barata

- Aos 14 anos fui fazer Teatro porque não gostava de quem eu era. Aos 19 virei atriz profissional por mero acaso. Aos 23 desisti, porque achava que não tinha talento suficiente para tirar a respiração do público.

- Eu não sei fazer regime

- Tudo o que eu sinto é em extremos. E muito.

- Sou desequilibrada

- Nunca consegui meditar na Yoga

- Também nunca consegui ficar de ponta cabeça sem o apoio da parede.

- Igual a toda mulher: eu tenho prisão de ventre, não gosto do meu cabelo, quero perder 3 quilos, sou viciada em chocolate e me apaixono por cafajestes. ( o que me torna um pouco óbvia)

- Gostei mais de tomar uma bala do que de saltar de pára-quedas

- Sou uma das pessoas mais preguiçosas que eu conheço

- Sou completamente ciente que já perdi inúmeras oportunidades por pura preguiça.

- Eu sou barbeira (mas eu to cagando e andando pra isso, até porque eu não gosto de dirigir. Dirijo por pura necessidade.)

- Já chorei assistindo a cópula de duas lesmas em um documentário sobre vida natural, gravado com uma super mega lente.
Por sinal, o episódio desse documentário que mostra insetos que fazem teias foi uma das coisas mais esteticamente lindas e sensíveis que eu já vi na televisão.

- Queria me vingar, mas tenho preguiça.

- Quando gosto muito de um filme, eu sinto inveja do roteirista.

- Eu minto às vezes. E minto bem.

12 março, 2010

Pensei nisso agora

Vendo as cenas do filme que o Marcelo Coelho colocou nesse seu post, eu lembrei de uma coisa:

Sempre adorei animais. Desde pequenininha.

Passei a infância indo para o sítio do meu avô (já falei deles aqui). E lá, tinha um monte de animais. Selvagens e domesticados.

Não sei por que cargas d´água, eu me convenci que me comunicava com os animais. Achava mesmo que tinha o poder único na humanidade de conversar com os bichos.

Como a maioria dos bichos com os quais eu conversava eram amigos imaginários. Eu seguia papeando com eles no jardim da minha casa, em São Paulo.

Mas, invariavelmente, acabava indo testar essa comunicação, todas as férias, com os animais reais do sítio.


Chegava de mansinho... bem perto de um cavalo, vaca, bezerro, porco, galinha, gambá, passarinho, pintinho, ou seja lá que bicho eu encontrasse...
Ia chegando pra falar com ele... Ia conversando baixinho... e prestando atenção à resposta.

Ahhhh, mas eles sempre acabavam fugindo. Viravam as costas e saiam. Me ignorando sem a menor cerimônia.

Não respondiam, saiam e não olhavam pra trás.

Caraca! vendo as cenas do cavalo branco do post do Marcelo, me lembrei de como isso me doía.

Como me machucava essa esnobação toda.
Os bichos me deixavam, literalmente, falando sozinha.
E eu sofria um bocado.

Me sentia rejeitada. A última das criaturas. A menos interessante. A menos gostada.

Bom, não preciso nem dizer que, nessa idade, eu não tinha muitos amigos humanos, não é?
Talvez não tivesse mesmo nenhum.

Mas esses animais, obviamente, não me ignoravam por minha causa, conscientemente. Eles tampouco entendiam toda a importância de, naquele momento, me fazerem companhia, ou mesmo manter um diálogo com a minha pessoa.

A questão é que eu lembrei agora dessa sensação ruim.
Daí eu lembrei também que algumas pessoas, de vez em quando, agem como esses animais.

E com o tempo, depois de uns tombos, eu aprendi a não me importar tanto com isso.

Mas eu também me lembro bem, que muitas vezes algum cavalo ou bezerro, não fugia. Ao contrário, aceitavam minha companhia e meus afagos (e meu papo, confesso.)
E, cara, esse era realmente o ponto alto do meu dia!
Passava horas com a criaturinha...
Isso renovava, em segundos, a minha certeza de ser o único ser humano na Terra com poderes reais de me comunicar com os bichos!


Essa é a sorte que eu tenho em ter ao meu lado algumas pessoas especiais. Que renovam, diariamente, minha fé na humanidade.
E a certeza de que existe muita gente por aí que ficará esperando, sem fugir, quando eu chegar de mansinho... bem perto.

10 março, 2010

por favor

Por favor Cabeça, se você pudesse desligar só por um instante.

08 março, 2010

impressões do Oscar de ontem

Realmente acho que não devemos estar nem aí para o que a "academia norte americana de filmes" acha ou deixa de achar sobre o cinema. Deles, nosso, internacional. Acho que premiações são legais e importantes, mas temos que ter o distânciamento crítico quanto a gostos e interesses... mas...

Uhhhuuuuuu!!! BOA Campanella!!!!! O Segredo dos Seus Olhos levou!!!! Uhuuuuu! Foda!!! Amei!!!!Irado!!!! Boa hermanos!!!! Boa Darín!!! aha uhu... Fita Branca dançou!!! Yes!!!



Na boa, como que o Mark Boal me leva um Oscar de roteiro original? Ele não tá sendo processado pelo soldado lá? Falando que ele contou a história dele e não deu crédito?
Ok... não tá provado, deve até ser jogo de ego do soldadinho... anyway
Ele devia concorrer por roteiro adaptado, não?



Agora, de verdade, o único que merceia levar roteiro original é o "Bastardos Inglórios". Que roteiro é aquele?? Ele contou originalmente uma história que ninguém ousa nem mexer!! Incrível. Ele devia ser premiado mil vezes. Isso sim é uma ideia original! Puta roteiro!

(Até o UP, a animação que tava concorrendo por roteiro original, com a história do velhinho que voa com balões de aniversário... até ele não foi tão original assim... Porque teve um padre brasileiro aí... que pegou uns balões de aniversário e.... bom, vocês conhecem o caso, né? hahaha)

07 março, 2010

licença poética

As Mariposa

(Adorniran Barbosa)

As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansá

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas noite só pra me beijá

As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansá

Tá muitu bom...
Mas num vai si acostumá, viu
Dona mariposinha?


Eu postei essa letra e depois fiquei pensando.
O Adoniran até era um velhinho fofo. E eu adoro as músicas dele. Mesmo. Inclusive, e até por isso, pelas incríveis licenças poéticas do erros de portugues! Os sambinhas dele são perfeitos!

Mas essa letra aí é meio machista. E meio cafajeste, né não?
Será que a mulherada disputava o beijo dele tanto assim? Que nem mariposa na luz? Sei não...

E esse "num vai si acostumá"? Existem registros do Adoniran ser tão irresistível?

04 março, 2010

Olha como as coisas são...

CENA 1

Graças a acontecimentos recentes plenamente fora do meu controle. E graças ao fato eu não o ter o mínimo controle sobre a minha própria cabeça ( ou mente, como queiram) - que já vi até em um desses programas de tv ruim, que a gente acaba vendo porque o domingo estava ainda mais ruim - eu descobri que essa falta de controle pode chamar também falta de disciplina , que pode ser readquirida em artes marciais ou massagem Ayurvédica

Graças a tudo isso, eu não estou conseguindo, por um tipo de bloqueio criativo ou falta de concentração ou insônia graças a pensamentos repetitivos ou por pura preguiça causada por esses mesmos eventos fora do meu controle.

Eu não estou conseguindo sentar minha bunda na cadeira e escrever o roteiro de um simples, simplesinho, vídeo institucional. Freela que eu peguei pra pagar as contas e dar uma animada na minha semana.

Mas eu não estou conseguindo e eu não sei porque, porque eu faço isso quase todo dia, e fiz muito durante mais de ano.

Mas eu travei.


CENA 2


Como boa amante da literatura e das artes, e do bom gosto, e do que é bom, eu me interesso enormemente por literatura e arte erótica (veja bem, erótica não pornô).

Faz algumas semanas eu escuto no rádio - numa pílula programete apresentado por uma jornalista que eu nem gosto nem admiro tanto assim , mas que faz um bom trabalho com essas pílulas - a descrição de um livro chamado Pornopéia.

Não precisamos ser gênios para deduzir o tema do livro pelo título e, no mesmo instante, eu anotei em um papelzinho esse título para comprá-lo.

CENA 3

Abri hoje a internet para comprar o livro. Escrevi o nome dele na barra de pesquisa do google e dei de cara com a transcrição que o Sergio Rodrigues fez do início de Pornopopéia:



Vai, senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha, fiadaputa. Taí o computinha zumbindo na sua frente. Vai, mano, põe na tua cabeça ferrada duma vez por todas: roteiro de vídeo institucional. Não é cinema, não é epopéia, não é arte. É — repita comigo — vídeo institucional. Pra ganhar o pão, babaca. E o pó. E a breja. E a brenfa. É cine-sabujice empresarial mesmo, e tá acabado. Cê tá careca de fazer essas merdas. Então, faz, e não enche o saco. Porra, tu roda até pornô de quinta pro Silas, aquele escroto do caralho, vai ter agora “bloqueio criativo” por causa dum institucionalzinho de merda? Faça-me o favor.
Ok, chega de papo. É só dirigir a porra da tua mente pra nova linha de embutidos de frango da Granja Itaquerambu. Podia ser qualquer outro tema, os cristais de Maurício de Nassau, a cavalgada das Valquírias, a vingança dos baobás contra o Pequeno Príncipe. Que diferença faz? Pensa que são os embutidos de frango do Nassau, a cavalgada das mortadelas, a vingança dos salsichões contra o Pequeno Salame. Pensa no target do vídeo: seres humanos a quem coube o karma nesta encarnação de vender no atacado os produtos da Itaquerambu. Pensa no evento em que o teu vídeo vai passar — vários eventos, aliás, todos no mesmo dia em todas as filiais do Brasil. Os seres humanos vendedores de embutidos verão teu vídeo e serão apresentados ao salsichão, ao salame e até à mortadela de frango, heresias saudáveis em matéria de junkyfood que a Itaquerambu vai lançar no mercado. Mesmo a tradicional salsicha e a insuperável lingüiça de frango vão ser relançadas com outra formulação, segundo eles dizem. Quer dizer, em vez do jornal reciclado de praxe, os putos vão adicionar algum tipo de pasta de lixo orgânico pasteurizado na mistura, imagino, mais uma contribuição da Itaquerambu para um planeta sustentável.



Porra, mas eu sou cineasta, caralho. Artista. Não nasci pra rodar vídeo institucional. E de embutidos de frango, inda por cima, caceta!


Calma, calma. Pensa que o teu vídeo será visto “de Passo Fundo a Quixeramobim, do Rio de Janeiro a Corumbá”, como disse o Zuba, ao sentir minha reação pouco eufórica diante do tema. “E capricha na linguagem brasileira universal, tá?”, foi o que ele me pediu, como se linguagem brasileira universal fosse uma das opções do Final Draft ou do Magic Screen Writer. Você clica em LBU e seu texto será entendido nos pampas, serrados, praias, selvas, semi-áridos e caatingas do país, sem contar os aglomerados urbanos e seus múltiplos guetos. Teu único filme de cinema até agora, por exemplo, nunca passou em tantos lugares ao mesmo tempo. Na caatinga, por exemplo, nunca foi visto. Não que se saiba.


Volto a perguntar: qual a diferença entre arte e embutidos de frango? Ou melhor: por que embutidos de frango não podem se transformar em arte?


Mas não precisa pensar nisso agora, nem em merda nenhuma que não seja frango embutido. Faz logo essa porra, porra. É bico: oito minutos de duração, um curta-metragem. Não vai matar o artista que há em você, amice. Ou havia. Ou nunca houve nem haverá. Foda-se.



É isso aí: vídeo institucional, embutidos de frango, Granja Itaquerambu. Beleza.


O que fode é o prazo. Sempre a porra do prazo. Tá ligado que esse roteiro tem que estar escrito, aprovado, rodado, entregue em mídia DVCAM, e exibido pros vendedores até 15 dias antes do lançamento da campanha na mídia? Ou seja, daqui a nove dias. Você devia ter chamado um bosta dum roteirista qualquer pra te ajudar, desses que filam cigarro e cerveja de mesa em mesa na Merça e não perdem chance de puxar uma lousa e dar aula sobre Hal Hartley e a narrativa cinematográfica interior aos substratos descontínuos da consciência dos personagens pra alguma gostosinha basbaque de peitinhos soltos dentro de uma camiseta de pano fino. Conheço vários roteiristas desse naipe. Dúzias deles, na verdade. Tudo uma corja de bebum cafungueiro desempregado du caraio. Por uma peteca de pó e duas Original você contrata na hora um deles. Se calhar, o infeliz ainda leva teu carro no mecânico pra trocar a fricção e te faz o obséquio de encarar uma fila de banco pra pagar tuas contas atrasadas.


Bullshit. Não preciso, nunca precisei de roteirista nenhum. Merda por merda, deixa que eu mesmo chuto. Só que dessa vez travei geral. E o cara da Itaquerambu tá no pé do Zuba, que tá no meu pé, que tô em pé de guerra com os embutidos de frango. Ridículo, isso. Fala sério: nem uma réles ideiazinha pro vídeo pintou ainda na tua cabeça, meu filho. Nem a porra duma idéia de merda.


Pois é, nem a idéia.


Tá foda.


Embutidos de frango.


Foda.




Conclusão 1: Vou comprar o livro com certeza.

Conclusão 2: Eu estou me sentindo um pouco mais patética. Primeiro porque não sou artista p... nenhuma. Segundo porque, mesmo assim, eu fico com essas travas criativas estúpidas sem conseguir fazer roteiros inacreditavelmente simples. E eu nem escrevi livro nenhum. Sou uma fraude

Conclusão 3: Talvez ninguém tenha nada a ver com isso

03 março, 2010

Eu tenho mania

- de fazer listas de tudo o que eu tenho que fazer

- de mexer no cabelo

- de fazer perguntas

- de não tirar a maquiagem depois da balada

- de querer respostas

- de achar que eu fico invisível dentro do carro

- de roer unha

- de comprar cosméticos

- de não usar esses cosméticos diariamente, como recomendado

- de deixar tudo pra última hora

- de tomar um café puro e fumar um cigarro depois do almoço

- de fingir que tá tudo bem

01 março, 2010

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