21 janeiro, 2009

SOBRE O ADEUS

Eu acabei de terminar uma pós graduação em semiótica psicanalítica. (sim, semiótica psicanalítica).
Porque eu queria entender mais sobre as pessoas e seus signos
(não, não são aqueles do zodíaco, pelo amor de deus!)

Eu estou preparando uma monografia sobre bilhetes de suicídio.

Porque sim, as pessoas se matam! Quer dizer, as pessoas nem sempre se matam. Elas deixam de viver.

Por mais que a nossa mesquinha e recalcada sociedade ainda não aceite isso. Tanto não aceita que a mídia, esse grande deus que nos diz como temos que pensar, não noticie (ou raramente noticie) esse tipo tão específico de morte.

E não sou eu que to dizendo isso! Dentre as minhas pesquisas, eu li um livro incrível de um jornalista ( não menos incrível) chamado Arthur Dapieve . O livro chama-se “Morreu na Contramão” e defende, por A mais B, isso que eu disse. Vale a pena!

Mas voltando ao elas deixam de viver... A Maria Lucia Dias sacou isso ao estudar um monte de bilhetes de suicídio.

“Pára o mundo que eu quero descer”. É bem isso.

Porque uma das certezas que a gente tem (por mais que se negue) quando estamos vivos, não é só a de que vamos morrer. Mas a de que podemos morrer. Se e quando quisermos.

E isso é tão libertador. Sim, porque lá no fundo todo mundo sabe que, se tudo der errado, mas muito errado mesmo, ainda tem uma saída.

Mas eu não me interesso pela saída. Me interessa o adeus.

Para uma apaixonada pelas letras, me interessa conhecer essas mensagens e o que elas têm de tão valiosas. Tão únicas. Tão importantes a ponto de serem a última coisa (ou A Coisa) que mereça ser escrita antes de deixar esse mundo. Aquilo que merece ser dito pela última vez. O último recado.

Às vezes é uma mensagem de alívio... tão calma e serena.... Às vezes é uma culpa, culpa de alguém, culpa do mundo... às vezes é uma dor sem tamanho... enfim...
Mas são, e dizem, algo dessas pessoas.

E como os livros dizem dos autores. E dizem de nós. E as músicas dizem dos compositores. E dizem de nós. E até os blogs dizem de seus escrivinhadores. E dizem daqueles que os lêem. É preciso aceitar que os bilhetes de adeus deles, dizem de nós.

E dizem do mundo que NÓS vivemos, e que ELES deixaram. E dizem das nossas dores. E de nossas culpas.

Bilhetes de suicídio talvez seja a literatura mais underground que exista. A mais proibida. A mais foda mesmo!
E mesmo assim. E talvez por isso. Seja uma literatura.

É uma literatura? É se alguém o lê. É se sentimos fundo ao lermos.

Eu leio. E sinto.





"O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."

Manuel Bandeira

2 comentários:

  1. Rô do céu... coisa genial essa dos bilhetes de suicídio. Riquíssimo! Daí lembrei de uma pesquisa que fiz sobre as últimas palavras de condenados à morte. É como vc - sabiamente e sabidamente - disse: para ser literatura, basta ter quem leia. Bora ler, menina, rs! Beijo grande!

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  2. Linda, linda, Karin!

    Que bela pesquisa, tb, hein!?!?

    Quero ver, qq dia!

    Beijo grande

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